TJCE - 3004563-25.2023.8.06.0167
2ª instância - Câmara / Desembargador(a) 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais
Processos Relacionados - Outras Instâncias
Polo Ativo
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Polo Passivo
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Movimentações
Todas as movimentações dos processos publicadas pelos tribunais
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02/09/2024 00:00
Intimação
ESTADO DO CEARÁ PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA 1ª Turma Recursal Nº PROCESSO: 3004563-25.2023.8.06.0167 CLASSE: RECURSO INOMINADO CÍVEL RECORRENTE: VERA LUCIA DA SILVA CARMO RECORRIDO: BANCO PAN S.A. EMENTA: ACÓRDÃO: Acordam os membros da Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Estado do Ceará, à unanimidade de votos, em CONHECER DO RECURSO E DAR-LHE PROVIMENTO, nos termos do voto da relatora, que assina o acórdão, em conformidade com o artigo 61 do Regimento Interno das Turmas Recursais. RELATÓRIO: VOTO: ESTADO DO CEARÁ PODER JUDICIÁRIO 1ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS GABINETE DA JUÍZA GERITSA SAMPAIO FERNANDES RECURSO INOMINADO Nº 3004563-25.2023.8.06.0167 RECORRENTE: Vera Lúcia da Silva Carmo RECORRIDO: BANCO PAN S.A.
ORIGEM: JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E CRIMINAL DA COMARCA DE SOBRAL-CE JUÍZA RELATORA: GERITSA SAMPAIO FERNANDES EMENTA: RECURSO INOMINADO.
PROCESSO CIVIL.
CONSUMIDOR.
AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C REPETIÇÃO DO INDÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.
CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO.
ANULAÇÃO.
VÍCIO DE CONSENTIMENTO.
INSURGÊNCIA RECURSAL POSTULANDO A CONDENAÇÃO DA PARTE RÉ EM INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
DESCONTOS INDEVIDOS EM VERBA DE NATUREZA ALIMENTAR.
ABALO MORAL CARACTERIZADO.
REFORMA DA SENTENÇA PARA CONDENAR A INSTITUIÇÃO FINANCEIRA AO PAGAMENTO DE R$ 3.000,00 (TRÊS MIL REAIS) A TÍTULO DE COMPENSAÇÃO PECUNIÁRIA.
RECURSO PROVIDO. ACÓRDÃO Acordam os membros da Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Estado do Ceará, à unanimidade de votos, em CONHECER DO RECURSO E DAR-LHE PROVIMENTO, nos termos do voto da relatora, que assina o acórdão, em conformidade com o artigo 61 do Regimento Interno das Turmas Recursais.
Fortaleza, data da assinatura digital.
GERITSA SAMPAIO FERNANDES JUÍZA RELATORA RELATÓRIO Trata-se de ação declaratória de inexistência de negócio jurídico c/c reparação por danos morais ajuizada por Vera Lúcia da Silva Carmo em face do Banco Pan S.A.
Na exordial (Id 13507262), a autora se insurge face dos descontos em seu benefício previdenciário, provenientes do cartão de crédito consignado com reserva de margem nº 770372794-6, com parcelas de R$ 49,00 (quarenta e nove reais).
Sustenta que buscou a instituição financeira com o intuito de celebrar um empréstimo consignado, todavia, fora ludibriada com a realização da operação de cartão de crédito consignado, ressaltando que não tinha interesse no produto e que sequer recebera o plástico.
Instruiu a inicial com histórico de consignados e de créditos (Id 13507267 e 13507268).
Sobreveio sentença (Id 13507297) que anulou o contrato litigioso e determinou a restituição dos descontos praticados no benefício previdenciário da autora, com base nos seguintes fundamentos: (…) De fato, ambas as partes confirmam que houve a contratação do cartão de crédito, contudo, o cerne do feito versa sobre a controvérsia acerca das informações prestadas no momento da contratação do crédito, onde a autora defende ter sido levado a crer estar adquirindo um empréstimo consignado, não um cartão de crédito consignado, ocorrendo falta do dever de informação, vício de consentimento e onerosidade excessiva.
A baixa escolaridade da parte autora a impede de compreender termos técnicos com a mesma clareza que os profissionais do banco, motivo pelo qual era mister que fossem devidamente explicadas as nuances da contratação.
Importa registrar que o modo de execução do contrato induziu a autora a erro, ao acreditar que o valor descontado em seu benefício mensalmente serviria à quitação das parcelas do financiamento, porém os descontos se referem ao pagamento mínimo da fatura mensal do cartão, cujo valor aumenta a cada mês em razão dos altos encargos correspondentes, o que torna a dívida impagável.
Os descontos sucessivos realizados pelo demandado, ocorrem sem prazo para término do pagamento, com a adoção do denominado crédito rotativo, que, sabidamente, possui os juros mais altos do mercado financeiro, colocando a consumidora em desvantagem excessiva.
Houve violação ao direito de liberdade de escolha e de informação à consumidora, segundo o art. 6º, II e III, do CDC.
Por consequência, é abusiva a contratação. (…)
Por outro lado, indeferiu o pedido de indenização por danos morais, por entender que não houve comprovação mínima da ocorrência de sofrimento excepcional digno de reparabilidade.
A promovente interpôs recurso inominado (Id 1350799) requerendo a reforma da sentença para condenar a instituição financeira ao pagamento de compensação pecuniária por danos morais no valor indicado na inicial, tendo como parâmetro todos os danos sofridos, o caráter pedagógico e o porte econômico das partes, ressaltando a prática abusiva da instituição financeira por ludibriar os clientes na celebração dos contratos.
Nas contrarrazões (Id 1350802), a instituição financeira impugnou a concessão do benefício da justiça gratuita em favor da promovente, e defendeu o não conhecimento do apelo por ofensa ao princípio da dialeticidade recursal. É o relatório.
VOTO Defiro o pleito de gratuidade de justiça em sede recursal nos termos do art. 5º, LXXIV, da Constituição de 1988 e do artigo 98, §1º e 3º, do CPC, por não constar nos autos qualquer indício ou evidência que aponte não fazer jus a recorrente ao referido benefício e não ter a parte adversa apresentado prova em contrário.
Pontuo que inexiste irregularidade formal do recurso, haja vista que a demandante impugnou especificamente os fundamentos do capítulo da sentença que indeferiu o pleito de indenização por danos morais.
Logo, preenchidos os demais requisitos de admissibilidade, conheço do apelo.
A controvérsia recursal reside na análise da repercussão na esfera moral da parte autora em razão da anulação do contrato de cartão de crédito consignado.
No caso em análise, a parte recorrente aufere o valor mensal de um salário mínimo e possui o benefício previdenciário como única fonte de renda, e o extrato do INSS que acompanhada a petição inicial (ID 13505767) aponta que a demandante sofreu 7 descontos no valor médio de R$ 47,99 (quarenta e sete reais e noventa e nove centavos), o que representa desfalque considerável em sua verba de natureza alimentar, circunstância que implica em violação ao postulado constitucional da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III), norma motriz de todo o ordenamento jurídico.
Além disso, deve ser levado em consideração o caráter pedagógico em virtude da conduta desleal da instituição financeira de impelir contratos bancários de natureza diversa daqueles efetivamente pretendidos pelos consumidores.
Por conseguinte, levando em conta a extensão do dano sofrido e as condições financeiras das partes, entendo por bem fixar a compensação pecuniária no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais), o qual considero justo e condizente com o caso em tela.
Ante o exposto, CONHEÇO DO RECURSO e DOU-LHE PROVIMENTO, reformando a sentença para condenar o réu ao pagamento de indenização por danos morais no importe de R$ 3.000,00 (três mil reais), atualizado pelo INPC a partir da publicação do presente acórdão (Súmula 362 do STJ) e com juros de 1% ao mês a partir da data do primeiro dos descontos, nos termos da Súmula 54 do STJ, mantendo os demais capítulos sentenciais.
Sem custas e honorários. É como voto.
Fortaleza, data do julgamento virtual.
GERITSA SAMPAIO FERNANDES JUÍZA RELATORA -
24/07/2024 00:00
Intimação
ESTADO DO CEARÁ PODER JUDICIÁRIO 1ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS GABINETE DA JUÍZA GERITSA SAMPAIO FERNANDES 3004563-25.2023.8.06.0167 DESPACHO Com fundamento no artigo 12, inciso III e artigo 42, caput, do Regimento Interno das Turmas Recursais dos Juizados Cíveis e Criminais, foi convocada sessão de JULGAMENTO VIRTUAL, com início aprazado para o dia 26 de agosto de 2024, às 09h30, e término dia 30 de agosto de 2024, às 23h59.
Dessa forma, nos termos do artigo 44 do referido normativo, ficam ainda as partes cientes das seguintes advertências: I) Os senhores advogados(as) que requererem sustentação oral ou solicitarem julgamento presencial ou telepresencial, deverão encaminhar peticionamento eletrônico nos próprios autos, até 02 (dois) dias úteis antes da data prevista para o início da sessão virtual, pedindo a exclusão do feito da sessão de julgamento (artigo 44, incisos III, IV e §1º); II) Os processos retirados do julgamento virtual serão adiados para a sessão telepresencial do dia 16 de setembro de 2024, independentemente de nova inclusão em pauta (artigo 44, incisos III, IV e §2º).
III) Os causídicos que manifestarem interesse em realizar sustentação oral deverão solicitar a inscrição até o encerramento do expediente (18h00) do dia útil anterior ao da sessão telepresencial, através do e-mail: [email protected], e protocolar nos autos o substabelecimento antes da sessão, conforme Resolução n. 10/2020 do TJCE, disponibilizada no DJe em 05/11/2020.
IV) O julgamento de embargos de declaração não comporta sustentação oral.
Intimem-se.
Expedientes necessários.
Fortaleza, data da assinatura digital.
GERITSA SAMPAIO FERNANDES Juíza relatora -
10/06/2024 00:00
Intimação
ESTADO DO CEARÁ - PODER JUDICIÁRIO 2ª Unidade do Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Sobral Avenida da Universidade, 850, Campos da Betânia, SOBRAL - CE - CEP: 62040-370 3004563-25.2023.8.06.0167 AUTOR: VERA LUCIA DA SILVA CARMO REU: BANCO PAN S.A.
SENTENÇA Dispensado o relatório, nos termos do art. 38, da Lei 9.099/95. Trata-se de ação de cancelamento de cartão consignado indevido c/c reparação por danos materiais e morais, proposta por VERA LUCIA DA SILVA CARMO em desfavor do BANCO PAN S.A, que solicita a resolução da relação jurídica, repetição de indébito e danos morais. O feito se deu em estrita observância aos princípios insculpidos na Lei 9.099, "buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação" (art. 2º).Entretanto, isso não foi alcançado na audiência conciliatória realizada em 07.05.2024 (id. 85607119).Oferecimento de contestação (id. 85277379), vindo os autos conclusos para o julgamento. No que se refere ao pedido de gratuidade judiciária, ele apenas atende ao requisito do interesse processual no 1º grau de jurisdição quando for reconhecida a litigância de má-fé ou no caso de extinção do processo por ausência injustificada do autor a qualquer das audiências do processo (art. 51, § 2º, da lei 9.099/95).Assim, observo que será analisado caso seja intentado recurso inominado por qualquer dos litigantes. Diante da possibilidade de dispensa do relatório prevista no art. 38 da Lei 9.099/95, essas breves palavras representam-no. II - FUNDAMENTAÇÃO O feito encontra-se disponível para julgamento no estado em que se encontra,pois desnecessária a produção de novas provas, razão pela procedo ao julgamento antecipadodo mérito da demanda, com fulcro no art. 355, inciso I, do Código de Processo Civil. Mostra-se possível no caso concreto ao juízo dispensar a realização de prova oral (oitiva da autora) quando os documentos juntados aos autos mostram-se suficientes à solução da lide, consoante facultado pelo Código de Processo Civil, que permite ao julgador determinar as provas que entende necessárias à instrução do processo, bem como o indeferimento daquelas que considerar inúteis ou protelatórias. Do Mérito Inicialmente convém dizer que o feito narra evidente relação de consumo, em que a parte autora e a instituição ré enquadram-se nas características explicitadas nos artigos 2º e 3º do Código de Defesa do Consumidor, o que impõe a análise do feito pautado nas garantias desse regramento. Sendo assim, a responsabilidade da instituição ré, para o caso, é objetiva nos termos do artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor, restando à parte autora tão somente a provada existência do fato, do dano e do nexo causal, competindo à demandada,
por outro lado, demonstrar que não houve o defeito na prestação do serviço e que a culpa foi exclusivamente da parte autora ou de terceiro (§ 3º, inciso I e II, do art. 14). No caso em análise tem-se que o banco promovido, em sua peça de defesa, alega a existência da relação contratual celebrada com a autora, cuja obrigação imposta à consumidora quando da realização do Contrato de Adesão a Cartão de Crédito Consignado (proposta nº 770372794). A parte autora, por sua vez, confirma ter firmado o contrato de crédito consignado, porém afirma que não sabia que estava contratando cartão de crédito consignado, e por isso afirma sentir-se ludibriada, fazendo jus à devolução dos valores descontados e indenização moral. De fato, ambas as partes confirmam que houve a contratação do cartão de crédito, contudo, o cerne do feito versa sobre a controvérsia acerca das informações prestadas no momento da contratação do crédito, onde a autora defende ter sido levado a crer estar adquirindo um empréstimo consignado, não um cartão de crédito consignado, ocorrendo falta do dever de informação, vício de consentimento e onerosidade excessiva. A baixa escolaridade da parte autora a impede de compreender termos técnicos com a mesma clareza que os profissionais do banco, motivo pelo qual era mister que fossem devidamente explicadas as nuances da contratação. Importa registrar que o modo de execução do contrato induziu a autora a erro, ao acreditar que o valor descontado em seu benefício mensalmente serviria à quitação das parcelas do financiamento, porém os descontos se referem ao pagamento mínimo da fatura mensal do cartão, cujo valor aumenta a cada mês em razão dos altos encargos correspondentes, o que torna a dívida impagável. Os descontos sucessivos realizados pelo demandado, ocorrem sem prazo para término do pagamento, com a adoção do denominado crédito rotativo, que, sabidamente, possui os juros mais altos do mercado financeiro, colocando a consumidora em desvantagem excessiva. Houve violação ao direito de liberdade de escolha e de informação à consumidora, segundo o art. 6º, II e III, do CDC.
Por consequência, é abusiva a contratação. A Corte Cidadã tem o verbete nº 479 da súmula de jurisprudência: "As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias". Pois bem, ainda que se verifique a juntada do contrato aos autos, denota-se que a parte autora requereu a declaração de inexistência do contrato porquanto não realizou nenhum contrato de cartão de crédito com a Instituição Financeira. Não existindo nos autos prova contundente e idônea de que a contratação do cartão de crédito se deu por instrumento que legitimasse o consentimento da reclamante do negócio, a instituição financeira é que tem a responsabilidade pela incorreção na escolha contratual pretendida pela autora. Nesse sentido, é o entendimento do Tribunal de Justiça local: APELAÇÃO CÍVEL.
AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DEDÉBITO OU NULIDADE DE NEGÓCIO JURÍDICO C/C REPETIÇÃO DEINDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
CONTRATAÇÃO DECARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO.
AUTOR INDUZIDO A ERRO, POISPRETENDIA FIRMAR EMPRÉSTIMO CONSIGNADO CONVENCIONAL.PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO QUE DEMONSTRAMVERACIDADE DA ALEGAÇÃO AUTORAL.
CARTÃO NÃO UTILIZADOPARA FAZER COMPRAS.
CRÉDITO DISPONIBILIZADO NA CONTA DOAUTOR QUE NÃO TEM O CONDÃO, POR SI SÓ, DE CONVALIDAR ONEGÓCIO JURÍDICO.
CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO QUE SEMOSTRA DESVANTAJOSO EM RELAÇÃO AO EMPRÉSTIMOCONSIGNADO.
AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO CLARA E ADEQUADA.FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO.
VÍCIO DE VONTADECONFIGURADO.
NULIDADE DO CONTRATO E DEVER DE INDENIZARQUE SE IMPÕE.
DEVOLUÇÃO SIMPLES.
COMPENSAÇÃO DO VALORTRANSFERIDO.
QUANTUM INDENIZATÓRIO.
CABIMENTO.OBSERVÂNCIA AOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE EPROPORCIONALIDADE.
RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTEPROVIDO.
SENTENÇA REFORMADA.
A presente apelação visa à reforma da sentença que julgou improcedente o pedido inicial nos autos da Ação Declaratória de Inexistência de Débito ou Nulidade de Negócio Jurídico c/c Repetição de Indébito e Indenização por Danos Morais.
Cinge-se a controvérsia na manifestação de vontade do autor, aduzindo o mesmo que foi induzido a erro ao aderir a modalidade de contrato de cartão de crédito consignado, quando, na verdade, pretendia contratar empréstimo consignado em sua forma convencional.
Na espécie, examinando atentamente a prova colhida, notadamente os documentos de fls. 24/31, observa-se que houve a liberação do crédito no montante de R$ 1.900,20 (um mil e novecentos reais e vinte centavos) em favor do autor.
De outro giro, o demandante sequer efetuou compras com o cartão de crédito, conforme se extrai das faturas de fls. 38/58,anexadas pelo apelado, evidenciando sua intenção de somente contratar um empréstimo consignado.
As peculiaridades do caso concreto levam à conclusão de que o demandado realmente tinha a intenção de contratar um empréstimo consignado convencional ao receber o crédito, esperando, a partir de então, sofrer os descontos mensais correspondentes, e não o cartão de crédito consignado.
Com efeito a modalidade de contrato de cartão de crédito consignado, quando comparada ao contrato de empréstimo consignado convencional, é mais onerosa para o consumidor, na medida em que o desconto na conta, por ser limitado ao pagamento mínimo da fatura, faz incidir juros e taxas que, somadas ao valor da parcela do mês subsequente, elevam o valor da fatura a cada mês, gerando a famosa "bola de neve", cuja dívida perpetua ad eternum.
Em contraste, o empréstimo consignado tem prestações fixas mês a mês, com juros mais baixos e data de validade.
Ademais, não haveria, como de fato não houve, qualquer vantagem em contratar o cartão de crédito em lugar do empréstimo consignado que justificasse a autora ter, de forma consciente, optado por aquela modalidade, considerando os encargos próprios das administradoras de cartão de crédito.
Em outras palavras, não é crível que a consumidora pudesse receber o mesmo crédito e optar pela via mais onerosa para pagá-lo.
In casu, o agente financeiro não se desincumbiu do ônus de comprovar que teria esclarecido a natureza da operação cartão de crédito consignado para a cliente, com seus respectivos encargos, ferindo o direito do consumidor quanto à informação clara e precisa sobre o produto (art. 6º, III, do CDC).
Ressalte-se que o fato deter sido feito depósito na conta do autor não tem o condão, só por si, de convalidar o negócio, mormente porque constitui providência similar à adotada no empréstimo consignado, portanto, a transferência/depósito não serve para evidenciar a adesão válida da autora ao cartão de crédito.
Na verdade, a forma de execução do contrato foi um fator que levou a induzir a autora em erro, haja vista que em ambos há descontos no benefício previdenciário.
Reconhecida a falha na prestação do serviço, consubstanciada na falta de informação prévia, clara e precisa que levou o consumidor a se submeter a contrato mais oneroso, resta configurado o ato ilícito, o dano moral e o dever de indenizar, posto que os fatos ultrapassaram o mero aborrecimento.
Levando-se em consideração as circunstâncias do caso concreto, tenho que o valor a título indenizatório a ser arbitrado é de R$5.000,00 (cinco mil reais), quantia que guarda proporcionalidade comoocorrido.
Recurso conhecido e parcialmente provido.
Sentença reformada.
Fortaleza, data conforme assinatura eletrônica. (Apelação Cível -0144366-78.2009.8.06.0001, Rel.
Desembargador(a) CARLOS AUGUSTOGOMES CORREIA, 1ª Câmara Direito Privado, data do julgamento:03/08/2022, data da publicação: 04/08/2022). Em decorrência disso, o banco não se exime da responsabilidade de reparar os danos suportados pela reclamante, haja vista que a responsabilidade do reclamado pela deficiência na prestação do serviço prometido (empréstimo) independe de culpa.
Isso porque o CDC adota, como regra, a responsabilidade objetiva dos prestadores de serviço, inclusive os bancários, o que privilegia a teoria do risco do empreendimento. Dos Danos Materiais Na presente situação, verifica-se a necessidade de anulação do referido contrato, diante do vício na manifestação de vontade da consumidora, devendo as partes retornarem ao status quo ante, com a restituição à autora dos valores debitados do seu benefício, descontada a quantia que lhe foi creditada em decorrência do referido contrato.
Não há que se falar em restituição em dobro, uma vez que os descontos foram realizados para pagamento de débito efetivamente devido pela parte autora. Em verdade, ficou demonstrado que o banco transferiu R$ 1.253,00 (um mil duzentos e cinquenta e três reais) à autora - id nº 85277387, razão pela qual a devolução dos valores descontados da autora deve ser diminuída do crédito feito em sua conta. Dos Danos Morais Sobre os danos morais, é de se ter em mente a lição de Aguiar Dias sobre seu conceito, que são "as dores físicas ou morais que o homem experimenta em face da lesão"("in Da Responsabilidade Civil", vol.
II, p. 780). Pode-se afirmar que o dano moral caracteriza-se pela lesão ou angústia que vulnere interesse próprio, v.g., agressões infamantes ou humilhantes, discriminações atentatórias, divulgação indevida de fato íntimo, cobrança vexatória, dentre outras. Ainda na linha da jurisprudência do STJ, "não há falar em prova do dano moral, mas, sim, na prova do fato que gerou a dor, o sofrimento, sentimentos íntimos que o ensejam.
Provado assim o fato, impõe-se a condenação" (REsp 204786/SP, DJ de 12/2/01). Nesse sentido, anote-se ainda: AgRgAg nº 175.023/RS, Relator Ministro Waldemar Zveiter, Terceira Turma, DJ de 7/12/98.Na hipótese vertente, não houve comprovação mínima por parte do autor de ter experimentado sofrimento excepcional, digno de reparabilidade, considerando que o mero descumprimento contratual e/ou simples cobrança indevida de valores não ensejam, por si só, a reparação material. Nesse sentido, colaciono precedente do E.
Tribunal de Justiça do Estado do Ceará: EMENTA: CIVIL E PROCESSO CIVIL.
RECURSO DE APELAÇÃO.
AÇÃODECLARATÓRIA DE NULIDADE DE RELAÇÃO CONTRATUAL C/CREPETIÇÃO DO INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.PRELIMINAR DE DECADÊNCIA.
INOCORRÊNCIA.
CONTRATO DECARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO.
INTENÇÃO DE CONTRATAREMPRÉSTIMO CONSIGNADO.
VÍCIO DE VONTADE.
AUSÊNCIA DEINFORMAÇÃO CLARA E ADEQUADA.
ANULAÇÃO.
RESTITUIÇÃO NAFORMA SIMPLES.
DANO MORAL NÃO VERIFICADO.
RECURSOCONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.
SENTENÇA REFORMADA. 1.Conforme entendimento jurisprudencial amplamente pacificado, ao caso concreto deve ser observado o instituto da prescrição e não a decadência, visto que na hipótese se busca a reparação por defeito na prestação do serviço bancário, submetido, portanto, ao Código de Defesa do Consumidor.
Aplicável, assim, o prazo prescricional de 5 anos (art. 27 do CDC) e não o decadencial, conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça fixado no julgamento do AgInt no REsp 1.723.178/MS e do AgInt no AREsp1.481.507/MS. 2.
A jurisprudência tem adotado como critério para verificar o termo inicial da contagem do prazo quinquenal a última parcela descontada em folha de pagamento ou benefício previdenciário.
In casu, considerando que a ação foi proposta em menos de cinco anos da realização do contrato, não há que se falar da ocorrência de prescrição, ainda mais pela existência de relação obrigacional de trato sucessivo. 3.
Quanto ao mérito, não obstante a existência do contrato celebrado entre as partes, restou evidenciado nos autos que a parte autora agiu sob erro, pois de fato acreditava estar realizando empréstimo consignado comum, tendo sido pelo promovido procedida operação diversa da pretendida, consistente em empréstimo através de cartão de crédito com reserva de margem consignável, situação esta, portanto, que traz desvantagem exagerada ao consumidor, em virtude de desconto apenas do valor mínimo da fatura, gerando a incidência de encargos, e ainda a inexistência de data limite para sua liquidação.
Ademais não foi demonstrado pelo banco réu a disponibilização do cartão de crédito, muito menos que a consumidora tenha efetuado alguma compra com ele, conforme faturas anexas. 4.
Portanto restou evidente que houve falha no dever de informação por parte do promovido, o qual induziu a parte consumidora a erro, fazendo com que ela assinasse contrato sem que lhe fosse prestada informação clara e adequada das vantagens e desvantagens da contratação. 5. É caso de anulação do referido contrato, diante do vício na manifestação de vontade da consumidora, devendo as partes retornarem ao status quo ante, com a restituição à autora dos valores debitados do seu benefício, descontada a quantia que lhe foi creditada em decorrência do referido contrato.
Não há que se falar em restituição em dobro, uma vez que os descontos foram realizados para pagamento de débito efetivamente devido pela parte autora. 6.
Quanto ao dano moral, não houve comprovação mínima por parte do demandante de ter experimentado sofrimento excepcional, digno de reparabilidade, considerando que o mero descumprimento contratual e/ou simples cobrança indevida de valores não ensejam, por si só, a reparação material. 7.
Recurso conhecido e parcialmente provido.
Sentença reformada.(Processo: 0193774-86.2019.8.06.0001 - Apelação Cível / Quarta Câmara de Direito Privado, do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará /DESEMBARGADOR FRANCISCO BEZERRA CAVALCANTE Relator / Datado Julgamento: 31/01/2023). Do exposto, indefiro o pedido de indenização em relação aos danos morais.
III - DISPOSITIVO Diante do exposto, este juízo resolve o mérito da demanda, com fundamento no art. 487, inciso I, do Código de Processo Civil, para JULGAR PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos.
O requerido deverá devolver os valores descontados, com juros de mora de 1%(um por cento) ao mês a partir da citação e correção monetária pelo INPC a partir da data de cada desconto, compensando o valor com a quantia depositada em seu favor pelo réu, também atualizada pelo INPC.
Declara-se a nulidade do contrato impugnado.
JULGO IMPROCEDENTE o pedido relativo à indenização por danos morais. Sem condenação ao pagamento de custas e honorários advocatícios, a teor do disposto no artigo 55 da Lei n. 9.099/95. P.R.I Certificado o trânsito em julgado, em caso do cumprimento voluntário da obrigação, a Secretaria desta Vara deverá realizar os expedientes necessários à expedição do respectivo alvará. Em caso de ausência do pagamento voluntário e havendo pedido de cumprimento de sentença, a Secretaria deverá expedir os respectivos atos executórios para tanto. Sobral, data da assinatura digital.
ANTÔNIO CARNEIRO ROBERTO Juiz de Direito
Detalhes
Situação
Ativo
Ajuizamento
18/07/2024
Ultima Atualização
30/08/2024
Valor da Causa
R$ 0,00
Detalhes
Documentos
ACÓRDÃO SEGUNDO GRAU • Arquivo
ACÓRDÃO SEGUNDO GRAU • Arquivo
DESPACHO • Arquivo
DESPACHO • Arquivo
DECISÃO • Arquivo
DECISÃO • Arquivo
SENTENÇA • Arquivo
SENTENÇA • Arquivo
SENTENÇA • Arquivo
SENTENÇA • Arquivo
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