TJRN - 0862127-72.2022.8.20.5001
1ª instância - 11ª Vara Civel da Comarca de Natal
Processos Relacionados - Outras Instâncias
Polo Ativo
Polo Passivo
Movimentações
Todas as movimentações dos processos publicadas pelos tribunais
-
23/11/2024 14:57
Publicado Intimação em 10/10/2023.
-
23/11/2024 14:57
Disponibilizado no DJ Eletrônico em 09/10/2023
-
11/10/2023 19:51
Remetidos os Autos (em grau de recurso) para Instância Superior
-
11/10/2023 16:24
Juntada de Petição de contrarrazões
-
06/10/2023 16:09
Expedição de Outros documentos.
-
06/10/2023 16:08
Expedição de Certidão.
-
15/09/2023 04:05
Decorrido prazo de MARCOS DELLI RIBEIRO RODRIGUES em 14/09/2023 23:59.
-
24/08/2023 14:46
Juntada de Petição de apelação
-
14/08/2023 08:37
Publicado Sentença em 14/08/2023.
-
14/08/2023 08:37
Disponibilizado no DJ Eletrônico em 10/08/2023
-
14/08/2023 08:22
Publicado Sentença em 14/08/2023.
-
14/08/2023 08:22
Disponibilizado no DJ Eletrônico em 10/08/2023
-
10/08/2023 00:00
Intimação
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE 11ª Vara Cível da Comarca de Natal Rua Doutor Lauro Pinto, 315, Candelária, NATAL - RN - CEP: 59064-250 Contato: (84) 36159300 - Email: [email protected] PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7) Processo nº 0862127-72.2022.8.20.5001 Autora: Rafaela Cruz do Nascimento Réu: Ativos S.A.
Securitizadora de Créditos Financeiros SENTENÇA Vistos etc.
Rafaela Cruz do Nascimento, já qualificada nos autos, via advogado, ingressou com "AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C DECLARAÇÃO DA PRESCRIÇÃO E EXCLUSÃO DO SERASA" em desfavor de Ativos S.A.
Securitizadora de Créditos Financeiros, também qualificado, alegando, em síntese, que: a) ao consultar o banco de dados do "Serasa Consumidor", encontrou informações relativas a débito anotado pela ré com a nomenclatura "conta atrasada", vencido em 06/05/2010, no valor de R$ 1.037,17 (mil e trinta e sete reais e dezessete centavos), referente ao contrato de número 49904999; b) tendo em vista que o vencimento ocorreu há mais de 05 (cinco) anos, tem-se que se trata de dívida prescrita desde 06/05/2015, sendo incabível sua anotação no banco de dados da Serasa, constituindo conduta que contraria o que prescreve o art. 43, §§ 1º e 5º, do CDC; c) embora não conste dívida negativada em seu desfavor, há informação desabonadora, pois a manutenção do débito prescrito na plataforma “Serasa Limpa Nome” tem o condão de diminuir sua pontuação no score de créditos; e, d) operada a prescrição, fica impedido qualquer ato de cobrança, seja pela via judicial ou extrajudicial.
Escorada nos fatos narrados, a parte autora requereu a declaração da prescrição do débito em epígrafe e o cancelamento da anotação da dívida prescrita na plataforma Serasa Limpa Nome, com fundamento no art. 5º, I, da Lei nº 12.414/11.
Pugnou, ainda, pelo deferimento dos benefícios da assistência judiciária gratuita.
Anexou à inicial os documentos de IDs nos 87345704, 87345705 e 87345706.
Este Juízo determinou a intimação da parte autora para juntar procuração específica, nos termos do despacho de ID nº 87798065, oportunidade na qual a demandante carreou novo instrumento de mandato (ID nº 89555495).
No despacho de ID nº 91268696, foi deferida a gratuidade judiciária pleiteada na exordial e determinada a citação da parte ré.
Citada, a parte demandada apresentou contestação (ID nº 95781627), na qual impugnou o deferimento da justiça gratuita e, em sede de preliminar, arguiu inépcia da inicial e ausência de interesse processual da demandante.
No mérito, sustentou, em resumo, que: a) adquiriu a dívida questionada pela autora a partir de cessão de crédito firmada com o Banco do Brasil, referente ao contrato "Cartão Multiplo Private Label Hibrido Visa Internacional n. 4990499", passando a ser a detentora do direito de receber o respectivo pagamento; b) não houve a negativação do nome da demandante nos cadastros restritivos ao crédito, uma vez que o débito consta apenas da plataforma "Serasa Limpa Nome", sistema voltado à renegociação de dívidas, que não implica restrição do seu crédito no mercado, tampouco acarreta prejuízo ao score; c) a plataforma Serasa Limpa Nome não é um cadastro de inadimplentes, e sim mera ferramenta que permite a obtenção de descontos ou parcelamentos de débitos prescritos, cujas informações são visualizadas apenas pelo credor e pelo próprio consumidor, de modo que não tem o condão de macular a honra ou moral deste perante terceiros; e, d) a prescrição não atinge o direito subjetivo propriamente dito, de sorte que não gera a inexistência da dívida prescrita, mas somente a impossibilidade de sua cobrança judicial.
Ao final, pleiteou o acolhimento das preliminares suscitadas e, acaso superadas, pugnou pela total improcedência da pretensão autoral.
Aportou os documentos de IDs nos 95621624 e 95621625.
Instadas as partes a indicar provas (ID nº 96585679), a autora apresentou impugnação à contestação, na qual requereu o julgamento antecipado do feito (ID nº 97822954).
A parte ré, por seu turno, quedou-se inerte, consoante noticia a certidão de ID nº 100169325. É o que importa relatar.
Fundamenta-se e decide-se.
Ressalte-se, de início, que o caso sub judice comporta julgamento antecipado, nos termos do art. 355, inciso I, do CPC, uma vez que se trata de lide que versa sobre direito disponível e as partes não pugnaram pela produção de provas complementares, em que pese intimadas para tanto.
I – Da impugnação à justiça gratuita No tocante à impugnação à justiça gratuita, é relevante pontuar que o art. 99, §3º, do CPC consagra a presunção relativa de pobreza para a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural, o que significa que, para fazer jus à concessão da gratuidade judiciária, basta a alegação de que é pobre na forma da lei, não se fazendo necessárias maiores dilações a respeito.
Nessa esteira, após o deferimento do benefício da justiça gratuita à pessoa natural, incumbe à parte adversa desconstituir a presunção juris tantum estabelecida pela legislação de regência, apresentando elementos probatórios que evidenciem que a parte impugnada possui condições financeiras de arcar com as despesas processuais, o que não ocorreu na hipótese.
Com efeito, ao impugnar o pedido de justiça gratuita, a parte requerida escorou-se na alegação de que a parte requerente não comprovou sua hipossuficiência financeira, o que, por si só, não é suficiente para demonstrar a capacidade da parte demandante de arcar com as despesas do processo.
Portanto, não merece guarida a impugnação à justiça gratuita apresentada pela parte ré.
II – Da preliminar de inépcia da inicial Na contestação, a parte demandada suscitou inépcia da petição inicial ao argumento de que a autora não apresentou comprovante de negativação do seu nome, que seria documento apto a demonstrar as alegações deduzidas na exordial e a compatibilidade com os pedidos formulados.
Nesse pórtico, ressalte-se que, de acordo com a dicção do art. 330, §1º, do CPC, considera-se inepta a petição inicial quando faltar-lhe pedido ou causa de pedir; o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o pedido genérico; da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; ou, contiver pedidos incompatíveis entre si.
Nessa linha, conclui-se que não há falar em inépcia no caso em apreço, uma vez que não resta configurado nenhum dos apontados vícios.
Frise-se, ainda, que o extrato de negativação do nome da autora não é documento indispensável à propositura da ação.
Ademais, a relevância de sua apresentação, ou não, no momento do ajuizamento da demanda é matéria que se relaciona com o mérito da lide.
Assim sendo, por ausência de abrigo legal, rejeita-se a preliminar em epígrafe.
III – Da preliminar de falta de interesse processual arguida pela demandada Em sua peça de defesa, a parte ré arguiu, ainda, a falta de interesse processual da autora, sob a justificativa de ausência de pretensão resistida, haja vista que a demandante não demonstrou ter buscado resolver o imbróglio administrativamente.
Ocorre que, em caso de ação declaratória e de obrigação de fazer fundada em suposta falha de prestação de serviço, não se exige a prévia utilização da via administrativa.
Com efeito, a inafastabilidade da jurisdição, albergada pelo art. 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal de 1988, autoriza aqueles que se sentirem lesados em seus direitos a buscar a solução do conflito diretamente junto ao Poder Judiciário, salvo algumas exceções expressamente previstas em lei.
O tema em mesa não constitui nenhuma dessas exceções, não cabendo ao aplicador do direito, portanto, criar obstáculos ao acesso ao Judiciário sem que haja abrigo legal.
Além disso, o não reconhecimento dos pedidos vindicados na exordial é suficiente para configurar resistência à pretensão deduzida pela demandante.
Por conseguinte, rechaça-se a preliminar em testilha.
IV – Da ausência de interesse de agir quanto ao pedido declaratório Embora não se possa reconhecer falta de interesse processual da autora fundamentada na alegada inexistência de requerimento em âmbito administrativo, no que concerne especificamente ao pedido de declaração da prescrição da dívida formulado na exordial, após estudo atilado, conclui-se que não há interesse de agir, condição imprescindível para o exercício do direito de ação (art. 17, CPC).
Isso porque, nada obstante a lei processual ressalve a pretensão declaratória (ainda que exclusiva e autonomamente exercida, conforme art. 20 do CPC), o interesse de agir em âmbito declaratório pressupõe a ausência de certeza acerca de uma dada relação jurídica – quanto à sua existência, inexistência ou modo de ser – o que não se confunde sobremaneira com a pretensão da parte autora, que se limita a sustentar a ocorrência de um fato jurídico (o próprio decurso do tempo), ainda mais já convicta de sua ocorrência.
Some-se que a declaração judicial da prescrição de uma determinada dívida esbarra na própria dogmática jurídica a respeito do instituto da prescrição.
Mesmo envolta a sucessivas discussões doutrinárias, paira determinado consenso de que a prescrição ostenta nítida natureza jurídica de exceção, a ser exercida tão somente em contraposição a uma pretensão de cobrança, situação não verificada no presente caso.
Assim, é patente a ausência de interesse de agir da parte requerente quanto ao pedido declaratório formulado na exordial.
Em que pese esta magistrada comungar do entendimento acima, cumpre registrar que o egrégio Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte (Tema 09), no julgamento do IRDR nº 0805069-79.2022.8.20.0000, decidiu sobre a matéria jurídica em tela, tendo fixado a tese abaixo transcrita: 1) É inadmissível incluir o reconhecimento da prescrição no rol dos pedidos formulados na Ação. 2) Prescrição, quando há, fulmina o exercício do direito de Ação.
Ausente, no caso, o interesse processual do Autor. 3) Necessidade de exame da relação de direito material quando do reconhecimento da falta de interesse processual ou de agir, sendo inútil, na espécie, extinguir o processo sem resolução do mérito.
Improcedência do pedido. 4) Prejudicada a análise das questões alusivas à alegada inexigibilidade da dívida; exclusão do registro no cadastro "Serasa Limpa Nome"; e pretensão indenizatória por danos morais.
Sucumbência exclusiva da parte autora. (TJRN - Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas nº 0805069-79.2022.8.20.0000, Dr.
Ricardo Tinoco de Goes substituindo Des.
Dilermando Mota, Seção Cível, assinado em 30/11/2022) Tendo em mira a força obrigatória do aludido precedente, consoante inteligência do art. 985, I, do CPC, impõe-se sua aplicação ao caso em comento, haja vista que trata de idêntica questão de direito relativa à alegada prescrição de dívida por inscrição no cadastro “Serasa Limpa Nome” há mais de cinco anos.
Em assim sendo, ressalvando o entendimento deste Juízo no que diz respeito à ausência de resolução de mérito quanto à apreciação do pedido declaratório de prescrição invocado pela demandante – dado que intrinsecamente relacionado à conclusão de inexistência de interesse de agir capaz de alicerçar a referida pretensão deduzida na exordial – aplica-se o entendimento firmado no mencionado Incidente, ao qual este Juízo está vinculado, que foi expresso no sentido de reconhecer como improcedente o pleito declaratório, na medida em que, segundo o posicionamento da egrégia Corte, há ligação direta com o mérito da causa, por ser atinente à relação de direito material.
Destaque-se o seguinte excerto da ratio decidendi constante no voto do Acórdão proferido nos autos do IRDR em epígrafe: (...) Assim, as condições da ação, quando atinentes à relação de direito material efetivamente existente entre as partes (envolvendo o “segundo juízo” do duplo exame judicial), guardam ligação direta com o meritum causae, razão pela qual não podem ser tratadas apenas como requisitos processuais mínimos para a ocorrência regular da tramitação processual, mas sim como questões de mérito.
Tal entendimento encontra reforço na nova sistemática processual, inaugurada com o advento do Código de Processo Civil de 2015, que passou a privilegiar expressamente o princípio da primazia no julgamento de mérito (art. 4º).
Com maior autoridade, pode-se admitir, então, que a extinção do processo sem resolução do mérito é medida atípica que em tal caso não corrobora com a efetividade da tutela jurisdicional.
A regra é a resolução do litígio, e só por extrema impossibilidade de pronunciá-la é que se tolera a excepcional extinção do processo sem julgamento do mérito.
Tem-se, portanto, que o reconhecimento da falta de interesse processual no presente caso, decorre da conclusão de que a parte não é titular de uma pretensão albergada pela relação de direito material, do que resulta que o julgamento deve ser prolatado em sentença definitiva, analisando o mérito da demanda e formando coisa julgada material.
Não pode interessar ao Estado-Juiz a mera solução provisória da lide, quando ela é resolvida com a conclusão de que a parte não detém interesse processual, porque não titulariza o direito que alega, isso corresponde a julgamento de mérito, que detém caráter permanente, devendo, na hipótese, ser reconhecida a ausência de interesse processual da parte autora, mas com julgamento de improcedência dos pedidos deduzidos, nos termos e fundamentação supra. (Pág. 22 - grifos acrescidos) Portanto, em respeito à tese vinculante fixada no precedente, com esteio nos fundamentos supradelineados, o pedido declaratório deduzido na inicial deve ser julgado improcedente.
Em contrapartida, ainda que adotado o julgamento de mérito em relação ao pleito declaratório da autora, não há óbice para a apreciação do pedido relativo ao cancelamento da anotação da dívida prescrita, pois a viabilidade jurídica deste independe, na hipótese, da procedência ou não do pedido declaratório.
Ressalte-se que a prescrição da dívida ora discutida sequer é matéria controvertida nos autos, nos termos dos arts. 374 e 341 do CPC, pois é fato afirmado pela autora e reconhecido pela ré em sua peça defensiva, além de ser situação inalterável, ou seja, a dívida não deixa de existir, tampouco de estar prescrita, a despeito de se aplicar ou não a inadmissibilidade de reconhecimento via judicial da prescrição do débito questionado.
Dessa maneira, a improcedência do pedido de declaração de prescrição da dívida não afasta o interesse processual da parte autora quanto às demais pretensões deduzidas.
Além disso, impende observar que a tese vinculante fixada no Incidente repousa sobretudo na impossibilidade do reconhecimento da prescrição como objeto autônomo do exercício do direito de ação.
Assim, não tendo ocorrido o enfrentamento das questões tidas por prejudicadas no julgamento do precedente (inexigibilidade da dívida, exclusão do registro e indenização por danos morais), não é vedada a apreciação de questões jurídicas correlatas, tampouco impede que a demandante as postule autonomamente em ação na qual não pleiteie, por exemplo, a declaração da prescrição do débito.
Por conseguinte, com fulcro na primazia da solução integral do mérito (art. 4º do CPC), haja vista que a pretensão da autora vertida na inicial não se exaure no pedido declaratório, passa-se à análise do pleito relativo ao cancelamento da anotação da dívida prescrita da plataforma “Serasa Limpa Nome”.
V – Do pleito de cancelamento da anotação da dívida prescrita da plataforma "Serasa Limpa Nome" Cumpre assinalar, inicialmente, que não obstante a autora, em sede de réplica, tenha aduzido que a ré não demonstrou a cessão de crédito firmada com o credor originário do débito anotado em seu nome na plataforma Serasa Limpa Nome, tem-se que a pretensão deduzida na inicial não delimitou como objeto de discussão a origem da dívida registrada nem a existência do vínculo jurídico entre as partes (ID nº 87345703), de sorte que a ausência do instrumento do contrato de cessão não prejudica a análise do mérito do pedido indenizatório vertido na presente demanda, cujo cerne paira sobre a averiguação da licitude da cobrança de dívida prescrita por meio da referida plataforma.
Destaque-se que a ocorrência da prescrição do débito originado do contrato nº 49904999, no valor de R$ 1.037,17 (mil e trinta e sete reais e dezessete centavos), vencido em 06/05/2010, trata-se de fato incontroverso, sequer impugnado pela parte demandada, resultante da consumação, em 06/05/2015, do prazo quinquenal previsto no art. 206, §5º, inciso I, do CPC para o exercício da pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular, restando apenas analisar se é possível sua manutenção no banco de dados da Serasa e, de consequência, se é cabível a determinação de cancelamento da anotação.
Nesse diapasão, impende esclarecer que a anotação de dívida discutida na presente demanda, estampada no documento de ID nº 87345705, não corresponde a um registro no cadastro de inadimplentes (negativação), constituindo apenas um apontamento de "conta atrasada" disponibilizado na plataforma eletrônica denominada "Serasa Limpa Nome", que consiste em ambiente digital para a negociação e quitação de dívidas, com desconto, operacionalizado pela Serasa Experian.
Sobre a diferença entre as dívidas negativadas e contas atrasadas registradas na referida plataforma, transcreve-se a explicação contida no próprio website da Serasa, in verbis: "Todas as dívidas no Serasa Limpa Nome em atraso estão registradas no cadastro de inadimplentes da Serasa Experian? Não.
No Serasa Limpa Nome você também pode negociar dívidas em atraso que não estão e/ou serão registradas no cadastro de inadimplentes da Serasa Experian.
Ao ingressar no Serasa Limpa Nome não significa, necessariamente, que a sua dívida esteja ou será negativada.
Você pode consultar a situação da sua dívida em nossa plataforma e tirar dúvidas diretamente com a empresa credora.
Dívidas vencidas há mais de 5 anos não são incluídas no Cadastro de Inadimplentes" (grifos acrescidos).
Logo, partindo da premissa de que não ocorreu a negativação indevida do débito, há de se perquirir se o simples registro da dívida prescrita na condição de "conta atrasada" na plataforma "Serasa Limpa Nome" viola o regramento sobre os bancos de dados e cadastros de consumidores previsto no art. 43 do Código de Defesa do Consumidor, notadamente nos §§1º e 5º, que assim dispõem: "Art. 43.
O consumidor, sem prejuízo do disposto no art. 86, terá acesso às informações existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados sobre ele, bem como sobre as suas respectivas fontes. § 1° Os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos, claros, verdadeiros e em linguagem de fácil compreensão, não podendo conter informações negativas referentes a período superior a cinco anos. (...) § 5° Consumada a prescrição relativa à cobrança de débitos do consumidor, não serão fornecidas, pelos respectivos Sistemas de Proteção ao Crédito, quaisquer informações que possam impedir ou dificultar novo acesso ao crédito junto aos fornecedores" (destacou-se).
Nessa linha, é mister destacar que o instituto da prescrição civil não atinge o direito material em si, mas apenas a respectiva pretensão, afastando tão somente a responsabilidade do devedor (schuld), e não o débito propriamente dito (haftung), o qual permanece existindo na condição de obrigação natural, tanto que não admite repetição se adimplido, a teor do art. 882 do Código Civil.
Destarte, embora o credor não possa demandar em juízo, tampouco protestar ou negativar a dívida prescrita, nada impede que ele busque o recebimento do crédito a que faz jus por outros meios, a exemplo da transação, desde que não exponha o devedor a constrangimentos ou situações vexatórias ou humilhantes.
Sobre o tema, traz-se à baila o entendimento do Superior Tribunal de Justiça - STJ: AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL.
PRESCRIÇÃO.
OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER.
INEXISTÊNCIA DO DÉBITO.
NÃO CABIMENTO.
PREQUESTIONAMENTO.
SÚMULA Nº 211/STJ.
FUNDAMENTO NÃO ATACADO.
DEFICIÊNCIA.
SÚMULA Nº 283/STF.1.
Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2.
A falta de prequestionamento da matéria suscitada no recurso especial impede seu conhecimento, conforme dispõe a Súmula nº 211 do Superior Tribunal e Justiça. 3.
Se a questão levantada não foi discutida pelo tribunal de origem, e não foi verificada a existência de erro, omissão, contradição ou obscuridade, não há falar em prequestionamento ficto da matéria, nos termos do art. 1.025 do CPC/2015. 4.
O reconhecimento da prescrição afasta apenas a pretensão do credor de exigir o débito judicialmente, mas não extingue o débito ou o direito subjetivo da cobrança na via extrajudicial. 5. É inadmissível o inconformismo por deficiência na sua fundamentação quando as razões do recurso não impugnam os fundamentos do acórdão recorrido.
Aplicação da Súmula nº 283 do Supremo Tribunal Federal. 6.
Agravo interno não provido (STJ - AgInt no AREsp 1592662/SP, Rel.
Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 31/08/2020, DJe 03/09/2020) (grifou-se).
DIREITO CIVIL.
RECURSO ESPECIAL.
AÇÃO DECLARATÓRIA.
CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL.
PARCELAS INADIMPLIDAS.
PRESCRIÇÃO.
INTERRUPÇÃO.
NÃO OCORRÊNCIA.
REEXAME DE FATOS E PROVAS.
INADMISSIBILIDADE.
PRESCRIÇÃO QUE ATINGE A PRETENSÃO, E NÃO O DIREITO SUBJETIVO EM SI.1.
Ação ajuizada em 27/03/2013.
Recurso especial concluso ao gabinete em 14/12/2016.
Julgamento: CPC/73. 2.
O propósito recursal é definir i) se, na hipótese, houve a interrupção da prescrição da pretensão da cobrança das parcelas inadimplidas, em virtude de suposto ato inequívoco que importou reconhecimento do direito pelo devedor; e ii) se, ainda que reconhecida a prescrição da pretensão de cobrança, deve-se considerar como subsistente o inadimplemento em si e como viável a declaração de quitação do bem. 3.
Partindo-se das premissas fáticas estabelecidas pelo Tribunal de origem quanto à inexistência de ato inequívoco que importasse em reconhecimento do direito por parte da recorrida - premissas estas inviáveis de serem reanalisadas ou alteradas em razão do óbice da Súmula 7/STJ - não há como se admitir a ocorrência de interrupção do prazo prescricional. 4.
A prescrição pode ser definida como a perda, pelo titular do direito violado, da pretensão à sua reparação.
Inviável se admitir, portanto, o reconhecimento de inexistência da dívida e quitação do saldo devedor, uma vez que a prescrição não atinge o direito subjetivo em si mesmo. 5.
Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido (STJ - REsp 1694322/SP, Rel.
Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 07/11/2017, DJe 13/11/2017) (destaques propositais).
Dessa forma, tendo em vista que, segundo informações obtidas no website da Serasa, a plataforma "Serasa Limpa Nome" é acessada exclusivamente pelo consumidor mediante cadastro, com uso de login e senha pessoal, de modo que as anotações não ficam disponíveis para terceiros e os registros a título de "contas atrasadas" não são utilizados no cálculo do credit scoring, não se enxerga qualquer violação às normas consumeristas (art. 43, §§1º e 5º, do CDC), tampouco excesso de cobrança na conduta da parte ré, motivo pelo qual não há falar em impossibilidade de manutenção da anotação da dívida prescrita no referido banco de dados.
Apenas a título de reforço, confira-se o esclarecimento prestado pela Serasa Experian aos consumidores a respeito da possibilidade de inclusão da dívida prescrita na plataforma "Serasa Limpa Nome", disponível ao público em geral no site da entidade (https://ajuda.serasa.com.br/hc/pt-br/articles/360052983432-Minha-d%C3%ADvida-caducou-mas-tenho-uma-oferta-no-Limpa-Nome-para-ela-Isso-%C3%A9-correto-): "Minha dívida 'caducou', mas tenho uma oferta no Lima Nome para ela.
Isso é correto? Sim.
Após cinco anos de negativação, a dívida entra em decurso de prazo (em outras palavras, “caduca”).
Nesse caso, ela deixa de constar como negativada na Serasa e, portanto, de influenciar a pontuação do Score.
Porém, dívidas "caducadas" não são simplesmente extintas.
Elas ficam em aberto na empresa credora e ainda são passíveis de cobrança.
Assim, podem ser negociadas normalmente pela nossa plataforma (com status de “dívida atrasada”).
Atenção: as dívidas decursadas (caducadas) só ficam visíveis para você; o mercado não tem acesso às informações referentes a elas. É importante você saber que todas as informações da situação da dívida são enviadas pela empresa credora.
O Serasa Limpa Nome apenas facilita a negociação entre o consumidor e a empresa, ok?" (destaques acrescidos).
Portanto, como o registro do débito fica armazenado no banco de dados da Serasa com a finalidade única de possibilitar a negociação extrajudicial, não impactando negativamente no score de crédito do consumidor nem sendo acessível a terceiros, principalmente aos fornecedores, tem-se que a manutenção da anotação da dívida na plataforma "Serasa Limpa Nome" não viola as normas consumeristas, não havendo que se falar, por conseguinte, na imperiosidade da determinação do seu cancelamento.
Cumpre pontuar que há diferença entre o não recebimento de um benefício e um prejuízo.
O aumento de score concedido para o consumidor que paga dívidas prescritas não implica necessariamente prejuízo ao consumidor que deixa de fazê-lo, sendo certo que aqueles que optarem por não proceder ao adimplemento deixam de receber benefício, mas não são submetidos a nenhuma diminuição em seu score em razão da dívida.
Para espancar quaisquer dúvidas, destaque-se que, embora a autora também tenha fundamentado o pedido de cancelamento do apontamento do seu nome na plataforma "Serasa Limpa Nome" na previsão constante do art. 5º, inciso I, da Lei nº 12.414/2011, o referido diploma legal traz em seu bojo disposições relativas ao "cadastro positivo de crédito", também conhecido como "cadastro do bom pagador", banco de dados que representa espécie de "currículo financeiro" destinado a servir como referência para consumidores adimplentes que buscam crédito no mercado e que, além de não ser aplicável ao presente caso, uma vez que rege situação manifestamente diversa, não apresenta nenhuma vedação à cobrança de dívidas efetivamente existentes, ainda que prescritas.
Destarte, por se tratar de débito incontroverso, embora prescrito, inexiste óbice ao registro da dívida na condição de "contas atrasadas" na plataforma "Serasa Limpa Nome", pois a prescrição civil não ocasiona a extinção do crédito, podendo o demandado-credor buscar o adimplemento pela via da transação, em exercício regular de direito.
Nesse sentido, em harmonia ao entendimento já adotado por este Juízo, manifestou-se o TJRN na fundamentação do mencionado IRDR, da qual se destaca a seguinte constatação: Com efeito, por se tratar de mera plataforma de negociação restrita aos envolvidos diretos, o fenômeno prescricional, verificado pelo decurso do tempo, não repercutiria no referido cadastro, eis que não seria afastada a existência da dívida, apenas a pretensão referente ao exercício do direito a ela relacionado.
Em outras palavras, o só reconhecimento da impossibilidade de cobrança do débito não autoriza a exclusão do nome do devedor da plataforma “Serasa Limpa Nome”, tendo em vista que a prescrição não atinge o direito em si, apenas sua pretensão, conforme art. 189 do CC.
O credor não pode mais cobrar a dívida judicialmente, mas nada impede que realize tentativas extrajudiciais para recebimento do crédito, eis que o débito não deixa de existir. (TJRN - Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, 0805069-79.2022.8.20.0000, Dr.
Ricardo Tinoco de Goes substituindo Des.
Dilermando Mota, Seção Cível, ASSINADO em 30/11/2022, pág. 15 - destaques acrescidos).
Sendo assim, outro caminho não resta senão a improcedência do pleito vertido na exordial.
Ante o exposto, REJEITO a impugnação à justiça gratuita oferecida pela ré e as preliminares arguidas na contestação, JULGO IMPROCEDENTE a pretensão autoral e, em decorrência, declaro extinto o processo, com apreciação do mérito, nos termos do art. 487, inciso I, do CPC.
Condeno a parte autora ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, que ora fixo no percentual de 10% (dez por cento) sobre o valor atualizado da causa (art. 85, §2º, do CPC).
Contudo, com arrimo no art. 98, §3º, do CPC, suspendo a exigibilidade das referidas verbas sucumbenciais, em virtude da assistência judiciária gratuita outrora deferida (ID nº 91268696).
Publique-se.
Registre-se.
Intimem-se.
Transitada em julgado, arquivem-se.
NATAL/RN, 8 de agosto de 2023.
KARYNE CHAGAS DE MENDONÇA BRANDÃO Juíza de Direito (documento assinado digitalmente na forma da Lei nº 11.419/06) -
09/08/2023 11:37
Expedição de Outros documentos.
-
09/08/2023 11:37
Expedição de Outros documentos.
-
08/08/2023 18:10
Julgado improcedente o pedido
-
06/06/2023 12:49
Conclusos para julgamento
-
02/06/2023 17:00
Publicado Intimação em 20/03/2023.
-
02/06/2023 17:00
Disponibilizado no DJ Eletrônico em 17/03/2023
-
15/05/2023 14:02
Juntada de Certidão
-
14/04/2023 01:42
Decorrido prazo de MARCOS DELLI RIBEIRO RODRIGUES em 13/04/2023 23:59.
-
30/03/2023 14:58
Juntada de Petição de petição
-
16/03/2023 15:25
Expedição de Outros documentos.
-
16/03/2023 15:24
Ato ordinatório praticado
-
27/02/2023 17:48
Juntada de Petição de contestação
-
23/02/2023 17:25
Juntada de Petição de petição
-
25/01/2023 02:05
Decorrido prazo de Ativos S.A. Securitizadora de Créditos Financeiros em 24/01/2023 23:59.
-
11/11/2022 07:25
Publicado Citação em 11/11/2022.
-
11/11/2022 07:25
Disponibilizado no DJ Eletrônico em 10/11/2022
-
11/11/2022 07:11
Publicado Intimação em 11/11/2022.
-
11/11/2022 07:11
Disponibilizado no DJ Eletrônico em 10/11/2022
-
09/11/2022 12:31
Expedição de Outros documentos.
-
09/11/2022 12:31
Expedição de Outros documentos.
-
06/11/2022 22:30
Proferido despacho de mero expediente
-
13/10/2022 09:29
Conclusos para decisão
-
29/09/2022 16:04
Juntada de Petição de petição
-
13/09/2022 20:45
Expedição de Outros documentos.
-
13/09/2022 17:39
Proferido despacho de mero expediente
-
22/08/2022 18:13
Conclusos para despacho
-
22/08/2022 18:13
Distribuído por sorteio
Detalhes
Situação
Ativo
Ajuizamento
22/08/2022
Ultima Atualização
09/08/2023
Valor da Causa
R$ 0,00
Detalhes
Documentos
Sentença • Arquivo
Sentença • Arquivo
Sentença • Arquivo
Sentença • Arquivo
Sentença • Arquivo
Sentença • Arquivo
Ato Ordinatório • Arquivo
Ato Ordinatório • Arquivo
Despacho • Arquivo
Despacho • Arquivo
Despacho • Arquivo
Despacho • Arquivo
Informações relacionadas
Processo nº 0845804-65.2017.8.20.5001
Banco do Brasil S/A
Mc Gestao de Negocios LTDA
Advogado: Servio Tulio de Barcelos
1ª instância - TJRN
Ajuizamento: 18/12/2018 16:42
Processo nº 0100364-60.2016.8.20.0139
Bento Francisco Dantas
Municipio de Tenente Laurentino Cruz
Advogado: Adler Themis Sales Canuto de Moraes
1ª instância - TJRN
Ajuizamento: 13/05/2016 00:00
Processo nº 0801247-33.2022.8.20.5125
Mprn - Promotoria Luis Gomes
Ivanildo Escossio do Nascimento
Advogado: Aguinaldo Fernandes Dantas
1ª instância - TJRN
Ajuizamento: 19/10/2022 11:37
Processo nº 0853907-56.2020.8.20.5001
Gabriela Mariel Moura de Azevedo
Apec - Sociedade Potiguar de Educacao e ...
Advogado: Antonio de Moraes Dourado Neto
1ª instância - TJRN
Ajuizamento: 01/10/2020 18:28
Processo nº 0800248-38.2023.8.20.5160
Banco Bradesco S/A.
Banco Bradesco S.A.
Advogado: Antonio de Moraes Dourado Neto
2ª instância - TJRN
Ajuizamento: 31/07/2023 10:49