TJCE - 0200042-81.2024.8.06.0131
1ª instância - Vara Unica da Comarca de Mulungu
Polo Ativo
Polo Passivo
Movimentações
Todas as movimentações dos processos publicadas pelos tribunais
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17/09/2025 00:00
Intimação
ESTADO DO CEARÁ PODER JUDICIÁRIO COMARCA DE MULUNGU JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E CRIMINAL RUA ANTENOR FROTA WANDERLEY, S/N, CENTRO, MULUNGU/CE, CEP: 62764-000, FONE/WHATSAPP: (85) 3328-1192, E-mail: [email protected] SENTENÇA Classe: [Práticas Abusivas] Processo nº 0200042-81.2024.8.06.0131 Requerente: JOAO EVANGELISTA DE SOUSA Requerida: BANCO BMG SA I - Relatório.
Trata-se de Ação Declaratória de Nulidade de Cartão de Crédito Consignado - RMC c/c Repetição de Indébito e Danos Morais com Pedido de Tutela Provisória de Urgência proposta por João Evangelista de Sousa em desfavor do Banco BMG S/A, em razão de contrato de cartão de crédito consignado com reserva de margem (RMC), o qual alega não ter contratado ou, ao menos, não ter tido conhecimento adequado acerca de sua natureza e condições.
A parte autora alega, em síntese, que passou a sofrer descontos mensais em seu benefício previdenciário no importe de R$ 184,84 (cento e oitenta e quatro reais e oitenta e quatro centavos), sob a rubrica "Empréstimo sobre a RMC", referentes a cartão de crédito consignado não solicitado.
Sustenta que jamais contratou cartão de crédito com Reserva de Margem Consignável (RMC), modalidade que difere do empréstimo consignado convencional, pois funciona como cartão de crédito comum, sem número certo de parcelas e sem prazo determinado para quitação.
Afirma que essa modalidade é usualmente embutida pelas instituições financeiras em contratos, sem a devida informação aos consumidores, induzindo-os em erro.
Argumenta que, no caso concreto, houve falha no dever de informação e verdadeira prática abusiva, uma vez que os descontos efetuados não amortizam a dívida, mas apenas juros e encargos, tornando a obrigação impagável e gerando enriquecimento ilícito do banco.
Defende que tal prática tem causado transtornos reiterados a aposentados, pensionistas do INSS e servidores públicos, sendo amplamente divulgada pela mídia como uma das formas mais comuns de endividamento indevido.
Diante disso, requer o reconhecimento da inexistência da dívida relativa ao cartão de crédito consignado com RMC, a devolução em dobro dos valores indevidamente descontados, nos termos do art. 42, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor, além de indenização por danos morais.
Com a inicial foram apresentados os documentos indispensáveis em ids. 114555651 e seguintes.
Em decisão inicial de id. 114555627, deferi a gratuidade judiciária em benefício da parte autora, indeferi o pedido liminar, bem como determinei a realização de audiência conciliatória e citação da parte requerida.
O requerido apresentou contestação em id. 114555639, na qual sustenta arguição, preliminarmente, as matérias de inépcia da inicial, falta de interesse de agir, decadência e prescrição, nos termos do art. 178, II, do Código Civil, e art. 27 do Código de Defesa do Consumidor, com requerimento de extinção do feito com resolução de mérito.
No mérito, pleiteia pela improcedência da demanda.
A parte autora apresentou réplica em id. 114555648.
Intimadas sobre produção probatória, a parte requerida se manifestou pelo julgamento antecipado da lide, sendo o feito considerado maduro para sentença, nos termos do artigo 355, inciso I, do Código de Processo Civil (id. 114555646).
A parte autora, apesar de devidamente intimada, permaneceu inerte. É o breve relatório.
Passo a decidir.
II - Das preliminares.
Quanto as preliminares aventadas na contestação, passo a análise. - Da decadência e prescrição.
No que tange à alegação de decadência, sustentada com base no art. 178, II, do Código Civil, convém destacar que o fundamento da presente demanda não é propriamente a anulação de negócio jurídico com base em vício de vontade típico (erro, dolo, coação, etc.), mas sim a nulidade absoluta por ausência de consentimento válido, inexistência de relação jurídica e prática abusiva, situação que, inclusive, é compatível com o Código de Defesa do Consumidor (CDC), por se tratar de relação consumerista.
A jurisprudência tem reiteradamente afastado a aplicação da decadência nesses casos, reconhecendo a nulidade absoluta do contrato ou a inexistência da relação jurídica em hipóteses de ausência de contratação ou simulação, matéria que não se sujeita ao prazo de quatro anos previsto no artigo supracitado: No mesmo sentido, a tese da parte autora é de que jamais anuiu ao modelo contratual de RMC, tratando-se, portanto, de negócio jurídico simulado ou inexistente, situação que, nos termos do art. 169 e 167 do Código Civil, é nulo de pleno direito e não se sujeita a prazo decadencial.
No que diz respeito à prescrição, também não há como acolher a tese da parte ré.
O pleito veiculado nos autos possui natureza mista: (i) declaratória de nulidade/inexistência de relação jurídica, (ii) repetição de indébito e (iii) indenização por danos morais.
O pedido declaratório não se sujeita a prazo prescricional (art. 205, CC), e quanto aos demais pedidos, deve ser analisado sob a ótica da teoria do trato sucessivo, que afasta a incidência de prescrição total.
De igual modo, é pacífico que, nas relações de consumo bancário, envolvendo descontos mensais sucessivos em benefício previdenciário, a cada novo desconto nasce para a parte lesada uma nova pretensão, razão pela qual a prescrição alcança apenas as parcelas anteriores a cinco anos da propositura da ação, e não o direito como um todo.
A propósito: "Nas ações em que se discute a validade de descontos mensais em folha de pagamento decorrentes de supostos contratos não reconhecidos pelo consumidor, a prescrição atinge apenas as parcelas vencidas há mais de cinco anos, não havendo que se falar em prescrição total da pretensão." (TJ-SP - Apelação Cível: 1176468-84.2023.8.26.0100, Rel.
Roberto Mac Cracken, j. 05/07/2024) No mesmo sentido, ainda que se admita a incidência do prazo do art. 27 do CDC, este deve ser contado do conhecimento efetivo do dano e de sua autoria, o que, conforme narrativa da inicial, só se evidenciou com clareza diante da reiteração automática dos descontos e da ausência de transparência sobre a dívida total, fato agravado pela condição de hipossuficiência da autora, pessoa idosa, múltipla pensionista, e presumivelmente vulnerável. É o que determina o art. 6º, VIII, do CDC, impondo interpretação mais protetiva ao consumidor, especialmente quando a obscuridade do contrato ou a má-fé na abordagem tornam impossível a ciência plena da lesão no momento da contratação.
Portanto, não restou demonstrado que a parte autora teve ciência inequívoca da irregularidade desde o início dos descontos, tampouco que se operou a prescrição ou a decadência do direito vindicado. - Ausência de interesse de agir.
A pretensão resistida, que consubstancia o interesse de agir (art. 17 do CPC), não exige, como condição da ação, a prévia tentativa de solução administrativa da controvérsia.
Ao contrário do que alega o requerido, o exercício do direito de ação é constitucionalmente assegurado e independe de esgotamento de instâncias administrativas, salvo expressa previsão legal, a qual no presente caso, inexiste.
Não há no ordenamento jurídico brasileiro, nem mesmo no Código de Defesa do Consumidor (CDC), qualquer norma que condicione o ajuizamento de demandas consumeristas à tentativa prévia de resolução extrajudicial.
Ainda que recomendável, tal providência não constitui pressuposto processual.
Quanto ao IRDR nº 91 do TJMG, citado pela parte ré, importante observar que, embora incentive métodos autocompositivos e a teoria da justiça multiportas, não criou condição de procedibilidade para ações judiciais, tampouco possui efeito vinculante nacional ou revoga garantias constitucionais previstas nos arts. 5º, XXXV, da Constituição Federal e 3º, § 3º, do CPC.
Ademais, os fatos narrados na exordial, com a alegação de descontos mensais reiterados e automáticos nos proventos da parte autora, sem ciência adequada do negócio jurídico supostamente entabulado, evidenciam resistência tácita da parte ré, apta a configurar lide e justificar o ajuizamento da ação.
A autora, por meio da presente demanda, busca não apenas informações ou esclarecimentos, mas sim a nulidade de relação contratual em curso, com efeitos patrimoniais diretos e contínuos.
Portanto, há clara pretensão resistida e presença dos pressupostos processuais, motivo pelo qual a preliminar deve ser rejeitada.
Passo a análise do mérito da demanda. III - Mérito.
Cabível o julgamento antecipado do mérito porque os documentos trazidos para os autos dão suporte para análise e decisão das questões apresentadas pelas partes, sendo desnecessária a produção de prova oral. Nas palavras de Cassio Scarpinella Bueno, "o julgamento antecipado da lide justifica-se quando o juiz está convencido de que não há necessidade de qualquer outra prova para a formação de sua cognição sobre quem, autor ou réu, será tutelado pela atuação jurisdicional.
Em termos mais técnicos, o julgamento antecipado da lide acaba por revelar a desnecessidade da realização da fase instrutória, suficientes as provas eventualmente já produzidas até então com apetição inicial, com a contestação e, bem assim, com as manifestações que, porventura, tenham sido apresentadas por força das providências preliminares, é dizer, ao ensejo da fase ordinatória" (Curso Sistematizado de Direito Processual Civil, v. 2, t. 1, ed.Saraiva, p. 219). O Egrégio Superior Tribunal de Justiça já decidiu, pelo voto da Ministra Maria Isabel Gallotti que inexiste cerceamento de defesa na hipótese em que se indefere a dilação probatória vez que desnecessária.
A prova é endereçada ao julgador para que forme seu convencimento e está adstrita a sua utilidade, consagrando a legislação processual pátria, nos artigos 125, inc.
II e 130 do CPC o dever do juiz de velar pela rápida solução do litígio e indeferir as diligências inúteis ou meramente protelatórias (STJ - REsp. 919656/DF -j.04.11.2010). O juiz é o destinatário das provas e julgará a demanda norteado pelo princípio do livre convencimento fundamentado, insculpido no art. 371 do CPC, nas lições de Jônatas Luiz Moreira de Paula: (...) Princípio da Persuasão Racional ou Livre convencimento: é regra basilar no direito processual a independência intelectual do juiz ante sua interpretação dos fatos e das normas jurídicas, a fim de construir sua convicção jurídica.
Essa independência é expressada pelo princípio enfocado e, segundo, José Frederico Marques, situa-se entre o sistema da certeza legal e o sistema do julgamento segundo a consciência íntima, exigindo-se do julgador pesar o valor das provas que lhe parece mais acertado, dentro de uma motivação lógica que deve ser exposto na decisão. (MOREIRA DE PAULA, Jônatas Luiz.
Teoria Geral do Processo.
Ed.
Editora de Direito,2. ed.
Leme, São Paulo: 2000, pp 291-292). Registre-se, ainda, a aplicação do Código de Defesa do Consumidor (CDC) no caso concreto, ao qual também se submetem as instituições financeiras, conforme já pacificado pela Súmula nº 297 do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O cerne da controvérsia consiste em verificar se a contratação do cartão de crédito consignado com reserva de margem consignável (RMC) pela autora, mediante documento formalizado junto ao Banco BMG, foi realizada com observância das normas legais e do dever de informação, ou se houve vício de consentimento capaz de macular o negócio jurídico e ensejar os pedidos de devolução de valores e compensação por danos morais.
Inicialmente, reconhece-se que a relação estabelecida entre as partes é de consumo, sendo aplicável ao caso o Código de Defesa do Consumidor.
Também é inegável a condição de vulnerabilidade do autor, dada sua idade avançada e dependência exclusiva de benefício previdenciário.
Entretanto, a vulnerabilidade do consumidor não pode ser interpretada como presunção absoluta de nulidade ou de ilicitude de toda contratação bancária que lhe envolva, sob pena de esvaziamento da autonomia privada e banalização da proteção legal.
Nos autos, o requerido apresentou documentação idônea demonstrando a contratação do produto contratado pelo autor, com assinatura do Termo de Adesão e respectiva autorização para desconto de 05% (cinco por cento) de sua margem consignável, conforme previsto na legislação de regência (id. 114555635).
Tal produto é regulamentado pela Instrução Normativa INSS/PRES nº 28/2008 e é permitido pelo ordenamento jurídico, conforme previsão do art. 1º, §1º, da Lei nº 10.820/2003, que autoriza o desconto de prestações de cartão de crédito na folha de pagamento, até o limite de 05% (cinco por cento) da remuneração ou do benefício.
Verifica-se, ainda, que o contrato não se trata de um empréstimo consignado, mas sim de um cartão de crédito com possibilidade de saque de valores e pagamento mediante desconto mínimo mensal em folha, restando facultado ao consumidor a quitação total do saldo remanescente diretamente com a instituição financeira.
O fato de o consumidor, por iniciativa própria ou por desorganização financeira, optar por não pagar o valor integral da fatura e deixar que o débito rotativo se acumule não pode, por si só, converter-se em mácula à contratação em si.
O contrato prevê expressamente as condições do produto, sua natureza, encargos e formas de amortização da dívida, de modo que eventual desconhecimento por parte do autor, sem prova de vício de vontade, não pode ser presumido.
Ademais, a simples alegação de não ter compreendido a operação, desacompanhada de qualquer demonstração concreta de coação, fraude, erro substancial ou omissão dolosa, não é suficiente para infirmar a validade de documento contratual regularmente assinado, com previsão legal e que guarda correspondência com as práticas bancárias autorizadas pelos órgãos reguladores.
Cabe ao consumidor, ainda que hipossuficiente, diligenciar minimamente pela compreensão das obrigações assumidas, sobretudo em operações financeiras.
Nesse cenário, impende ressaltar que o referido serviço (disponibilização de crédito para saque com cartão fornecido pelas instituições financeiras) tem a sua licitude reconhecida pelo Tribunal de Justiça do Ceará, desde que atendidas as exigências dos artigos 6º e 5º da Lei nº 10.820/03, com redação alterada pela Lei nº 13.172/2015, estão regulados pelo artigo 15, inciso I, da Instrução Normativa nº 28/2008 do INSS/Previdência Social.
Confira-se: APELAÇÃO CÍVEL.
AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO CONTRATUAL C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO.
RELAÇÃO CONSUMERISTA.
CONSUMIDORA IDOSA, APOSENTADA E ANALFABETA.
SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA.
PRETENSÃO DE REFORMA.
PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA.
REJEITADA.
PRESCINDIBILIDADE DA PROVA FRENTE AO CONJUNTO PROBATÓRIO DOS AUTOS.
MÉRITO: COMPROVAÇÃO DE CONTRATAÇÃO DE CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO E DEMONSTRAÇÃO DO REPASSE DO VALOR SACADO PARA CONTA EM QUE A AUTORA RECEBE O BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO.
NÃO DEMONSTRAÇÃO DE ATO ILÍCITO.
DANO MORAL.
NÃO CONFIGURADO.
RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. 1.
PRELIMINAR. É entendimento do C.
STJ e dos Tribunais Pátrios que não há cerceamento de defesa pelo julgamento antecipado da lide, sem a produção de provas requestadas pelas partes, quando o julgador entende suficiente o conjunto probatório já encartado nos autos e motiva sua decisão baseado nele.
Precedentes.
Em análise minuciosa do caderno processual, verifico que há correspondência entre as assinaturas constantes no contrato de cartão de crédito (fl. 107) e nos documentos apresentados pela própria autora (fls. 27, 30), assim, mostra-se prescindível a prova grafotécnica para o desato do litígio.
Preliminar rejeitada. 2.
DA INCIDÊNCIA DO CDC - A discussão acerca da validade de contrato de cartão de crédito consignado deve ser analisada à base das disposições do Código de Defesa do Consumidor, por se tratar de relação de consumo, (artigos 2º e 3º), devendo-se assegurar a facilitação da defesa dos direitos do consumidor, mediante a inversão do ônus da prova (art. 6º, VIII). 3.
DO CONJUNTO PROBATÓRIO - Inobstante a parte não ser obrigada a fazer prova negativa do seu direito, os documentos colacionados pela recorrente não comprovam, nem de forma diminuta, suas alegações.
Em contrapartida, o recorrido se desincumbiu a contento do seu ônus probante (art. 373, II, CPC), produzindo prova robusta quanto à regularidade da contratação.
O Termo de Adesão Cartão de Crédito Consignado Banco BMG e Autorização Para Desconto em Folha de Pagamento (fls. 101-107) comprovou que, em 31/05/2016, a recorrente aderiu à contratação de cartão de crédito consignado, na qual houve expressa autorização para que o banco apelado realizasse o desconto de reserva de margem consignável - RMC diretamente em seu benefício previdenciário (cláusula 8.1, fl. 102), estando o referido contrato regularmente assinado pela mesma.
Além disso, demonstrou o banco recorrido, pelo comprovante de transferência bancária (fl. 111), a efetiva disponibilização da importância de R$1.076,03 (hum mil e setenta e seis reais e três centavos) em conta corrente da apelante, cuja importância a mesma não nega ter recebido. 4.
Resta evidente a ausência de vício de consentimento, não se verificando nenhuma abusividade na realização dos descontos, que além de serem expressamente autorizados pelo artigo 6º,e 5º da Lei nº 10.820/03, com redação alterada pela Lei nº 13.172/2015, estão regulados pelo artigo 15, inciso I, da Instrução Normativa nº 28/2008 do INSS/Previdência Social, não havendo que se falar na imposição de venda casada. 5.
Relativamente à contratação com pessoa que afirma ser semianalfabeta, é importante frisar que a simples condição de analfabetismo funcional não retira a capacidade para os atos da vida civil.
Ademais, in casu, a autora rubricou cada página do contrato e o assinou ao final, assim como o fez com a procuração outorgada ao seu causídico e com a declaração de pobreza que acostam a inicial. 6.
Recurso conhecido e improvido.
Sentença mantida. (TJCE.
Apelação nº 0036907-15.2018.8.06.0029.
Relator (a): MARIA DE FÁTIMA DE MELO LOUREIRO; Comarca: Acopiara; Órgão julgador: 2ª Vara da Comarca de Acopiara; Data do julgamento: 11/09/2019; Data de registro: 11/09/2019) Os documentos juntados pelo banco promovido permitem concluir que os débitos impostos ao requerente decorrem de relação contratual regularmente pactuada, não havendo indício de abusividade nas cobranças, mormente porque o contrato encontra-se acompanhado dos documentos pessoais da parte autora, além de conter em seu bojo todas as informações necessárias ao consumidor.
Por conseguinte, reconheço que ao apresentar as provas acima descritas o demandado se desincumbiu do ônus que lhe é atribuído pelo artigo 373, II, do CPC. Colaciono, sobre o tema, mais um julgado do egrégio TJCE em apreciação a caso análogo ao presente: APELAÇÃO.
SENTENÇA IMPROCEDENTE DO PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE NULIDADE CONTRATUAL, COM REPETIÇÃO DE INDÉBITO E DANOS MORAIS.
ALEGAÇÃO DE EMPRÉSTIMO FRAUDULENTO SEM QUALQUER RESSONÂNCIA NOS AUTOS.
EM ANÁLISE EXAURIENTE DOS DOCUMENTOS, PARTE A PARTE, AGITADOS, NÃO FOI EVIDENCIADA QUALQUER CONDUTA ILÍCITA PASSÍVEL DE REPARAÇÃO.
ATESTADA A VALIDADE CONTRATUAL E A PLENA APTIDÃO PARA SURTIR OS EFEITOS JURÍDICOS QUE LHE SÃO INERENTES.
PARADIGMAS DO EGRÉGIO TJCE.
DESPROVIMENTO. 1.
Inicialmente, percebe-se que o cerne da questão posta a desate consiste em conferir a verossimilhança das alegações recursais vertidas na existência de empréstimo consignado sem sua autorização e a sua revelia, porquanto, originado mediante fraude.
A par disto, verificar-se-á a possibilidade de reparação. 2.
De plano, vê-se que o Banco apresentou o respectivo contrato de mútuo, contendo a assinatura do Requerente, a qual, foi, inclusive, reconhecida, pelo próprio Apelante.
O Termo de Adesão ao Cartão de Crédito Consignado encontra-se, às f. 162/168 e incontáveis faturas, às f. 91/161. 3.
Ainda, o pacto está devidamente acompanhado dos documentos pessoais do Autor que instruíram a avença, a saber: RG, CPF e comprovante de residência.
Tais elementos de identificação estão às f. 169/174. 4.
Desta forma, a instituição financeira se desincumbiu do seu ônus probante de comprovar foto impeditivo do direito do Promovente.
Realmente, o contrato está perfeito e acabado, daí porque atestada a validade, de modo a ostentar plena aptidão para surtir os efeitos jurídicos que lhe são inerentes. 5.
Diante de tais evidências, a alegação de analfabetismo do Recorrente não tem o condão de reverter a potência das provas até porque a avença ostenta a assinatura de 2 (duas) testemunhas, aliás, como tem que ser neste caso específico de maior vulnerabilidade do contratante 6.
DESPROVIMENTO ao Apelo, de vez que não constatado qualquer ilícito passível de reparação. (TJCE.
Apelação nº 36910-67.2018.8.06.0029.
Relator (a): FRANCISCO DARIVAL BESERRA PRIMO; Comarca: Acopiara; Órgão julgador: 2ª Vara; Data do julgamento: 05/06/2019; Data de registro: 05/06/2019) Destarte, não vislumbro a ocorrência de qualquer dano a ser reparado estando o contrato de cartão de crédito esta em plena vigência. Os artigos 927 e 186 do Código Civil dispõem que: Art. 927.
Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. (…) Art. 186.
Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. O professor Caio Mário da Silva Pereira comenta que: "Embora a doutrina não seja uniforme na conceituação da responsabilidade civil, é unânime na afirmação de que este instituto jurídico firma-se no dever de "reparar o dano", explicando-o por meio de seu resultado, já que a idéia de reparação tem maior amplitude do que a de ato ilícito, por conter hipóteses de ressarcimento de prejuízo sem que se cogite da ilicitude da ação." (Responsabilidade civil, 9. ed., Rio de Janeiro, Forense, 1998). Para configuração do dever de reparar é necessária a demonstração do ato voluntário ou por negligência ou imprudência da parte autora, do prejuízo causado e do nexo de causalidade entre o ato e o dano. Importante observar que inexiste nos autos qualquer prova de que o autor tenha solicitado extrato, contestado formalmente os descontos ou tentado liquidar o saldo devedor antes de ingressar com a presente ação.
Tampouco se vislumbra a prática de qualquer conduta abusiva por parte do banco, como omissão deliberada de faturas ou recusa de atendimento, sendo legítimo o envio de faturas por meios eletrônicos, físicos ou canais de autoatendimento, como previsto contratualmente.
A alegação genérica de que os correspondentes bancários seriam desorganizados ou confusos não se traduz, por si só, em nulidade do contrato.
Quanto à devolução em dobro dos valores descontados, esta só se impõe nos casos de cobrança indevida com má-fé, nos termos do artigo 42, parágrafo único, do CDC, o que não se verifica no caso concreto.
A cobrança se deu com base em contrato formalizado e autorizado pelo INSS, sendo, portanto, indevida a restituição pleiteada, ainda que em valor simples.
Por fim, no tocante ao pedido de indenização por danos morais, entendo que não restou configurada qualquer ofensa à honra, imagem ou dignidade da parte autora.
A existência de descontos em benefício previdenciário, derivados de contrato legalmente celebrado e regularmente executado, não caracteriza, por si só, situação vexatória ou aflitiva que extrapole os meros dissabores da vida civil, não havendo nos autos comprovação de abalo emocional significativo que justifique compensação de ordem moral.
Dessa forma, ausente qualquer vício na contratação ou ilicitude na conduta do requerido, impõe-se a improcedência integral dos pedidos autorais.
III - Dispositivo.
Ante o exposto, julgo IMPROCEDENTE o pedido formulado pela parte autora e, por sentença com resolução de mérito, extingo o presente processo, o que faço com fulcro no artigo 487, I, do Novo Código de Processo Civil. Condeno o autor ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, os quais fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor atualizado da causa, nos termos do artigo 85, §2º, do Código de Processo Civil, suspensa a exigibilidade nos termos do art. 98, §3º, do CPC, por ser o autor beneficiário da justiça gratuita, já deferida nos autos.
Publique-se.
Registre-se.
Intimem-se.
Decorrido o prazo recursal sem insurgência, certifiquem-se o trânsito em julgado e arquivem-se os autos com as cautelas de praxe.
Mulungu, data e hora pelo sistema.
Edísio Meira Tejo Neto Juiz de Direito (Respondência) Vara Única da Comarca de Mulungu/CE -
13/08/2025 08:32
Cancelada a movimentação processual Conclusos para decisão
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11/08/2025 14:28
Proferido despacho de mero expediente
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20/01/2025 11:30
Juntada de Petição de substabelecimento
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04/11/2024 13:54
Conclusos para despacho
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02/11/2024 05:49
Mov. [18] - Migração de processo do Sistema SAJ, para o Sistema PJe | Migração SAJ PJe
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24/04/2024 17:21
Mov. [17] - Concluso para Decisão Interlocutória
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24/04/2024 17:07
Mov. [16] - Petição juntada ao processo
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24/04/2024 15:36
Mov. [15] - Petição | N Protocolo: WMUL.24.01800527-0 Tipo da Peticao: Replica Data: 24/04/2024 15:14
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12/04/2024 07:15
Mov. [14] - Petição juntada ao processo
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11/04/2024 15:36
Mov. [13] - Petição | N Protocolo: WMUL.24.01800451-6 Tipo da Peticao: Peticoes Intermediarias Diversas Data: 11/04/2024 15:26
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03/04/2024 11:56
Mov. [12] - Despacho/Decisão disponibilizado no Diário de Justiça Eletrônico | Relacao: 0088/2024 Data da Publicacao: 03/04/2024 Numero do Diario: 3276
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01/04/2024 01:40
Mov. [11] - Encaminhado edital/relação para publicação [Obs: Anexo da movimentação em PDF na aba Documentos.]
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26/03/2024 17:33
Mov. [10] - Mero expediente [Obs: Anexo da movimentação em PDF na aba Documentos.]
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26/03/2024 07:27
Mov. [9] - Concluso para Despacho
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25/03/2024 11:31
Mov. [8] - Petição | N Protocolo: WMUL.24.01800377-3 Tipo da Peticao: Contestacao Data: 25/03/2024 11:06
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16/03/2024 00:25
Mov. [7] - Certidão emitida
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08/03/2024 03:17
Mov. [6] - Despacho/Decisão disponibilizado no Diário de Justiça Eletrônico | Relacao: 0067/2024 Data da Publicacao: 08/03/2024 Numero do Diario: 3262
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06/03/2024 03:00
Mov. [5] - Encaminhado edital/relação para publicação [Obs: Anexo da movimentação em PDF na aba Documentos.]
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05/03/2024 13:39
Mov. [4] - Certidão emitida
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17/02/2024 10:18
Mov. [3] - Outras Decisões [Obs: Anexo da movimentação em PDF na aba Documentos.]
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14/02/2024 12:20
Mov. [2] - Conclusão
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14/02/2024 12:20
Mov. [1] - Processo Distribuído por Sorteio
Detalhes
Situação
Ativo
Ajuizamento
14/02/2024
Ultima Atualização
17/09/2025
Valor da Causa
R$ 0,00
Detalhes
Documentos
Sentença • Arquivo
Despacho • Arquivo
Despacho de Mero Expediente • Arquivo
Interlocutória • Arquivo
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