TRF1 - 1000483-62.2025.4.01.3301
1ª instância - Ilheus
Polo Passivo
Partes
Advogados
Nenhum advogado registrado.
Assistente Desinteressado Amicus Curiae
Partes
Advogados
Nenhum advogado registrado.
Movimentações
Todas as movimentações dos processos publicadas pelos tribunais
-
06/02/2025 00:00
Intimação
PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL Subseção Judiciária de Ilhéus-BA Vara Federal Cível e Criminal da SSJ de Ilhéus-BA PROCESSO: 1000483-62.2025.4.01.3301 CLASSE: MANDADO DE SEGURANÇA CÍVEL (120) POLO ATIVO: EDNA DE SOUZA SANTOS REPRESENTANTES POLO ATIVO: JULIAN ARAUJO DE ANDRADE - BA50768, HARRISIA CORREIA SILVA - BA50220 e FILIPE OLIVEIRA DE SOUZA - BA60239 POLO PASSIVO:INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS e outros DECISÃO EDNA DE SOUZA SANTOS, qualificado nos autos, impetrou MANDADO DE SEGURANÇA, com pedido de liminar, contra ato do CHEFE DA AGENCIA DA PREVIDENCIA SOCIAL EM ILHEUS pleiteando a anulação do ato de cessação do benefício através da alta programada e o imediato restabelecimento do benefício até que seja realizada perícia de prorrogação do segurado.
Requereu os benefícios da justiça gratuita.
Relata, em síntese, que vinha recebendo o benefício NB 636.354.440-1 desde 07/02/2020, com data prevista para cessação em 06/09/2021.
Ato contínuo a autora requereu, em 18/05/2022, a prorrogação de seu benefício, a qual foi concedida até 06/02/2025, constando na decisão a possibilidade de ser solicitada nova prorrogação.
Aduz que, ante a continuidade do quadro de incapacidade, a autora tentou solicitar a prorrogação do benefício, e se deparou com a seguinte mensagem “Pedido de prorrogação não permitido.
Motivo: Benefício não pode mais ser prorrogado".
A impetrante alega que “percebe-se a grave violação aos direitos da impetrante, AO CONCEDER E CESSAR O BENEFÍCIO SEM LHE PERMITIR A OPORTUNIDADE DE REQUERER A PRORROGAÇÃO DO BENEFÍCIO, BEM COMO, DE SER AVALIADA EM UMA NOVA PERÍCIA MÉDICA, COM A GARANTIA DE RECEBIMENTO DO SEU BENEFÍCIO AO MENOS ATÉ A NOVA AVALIAÇÃO”. É o relatório.
Fundamento e decido.
Defiro à impetrante os benefícios da justiça gratuita.
Da Inconstitucionalidade da Alta Programada A chamada alta programada foi instituída inicialmente pela Medida Provisória nº 739, de 07/07/2016, após o golpe parlamentar-midiático que afastou a presidenta legitimamente eleita e reinstituiu no país o desumano regime neoliberal, caracterizado pela extinção de direitos sociais.
Por ela, foi incluído o §8º no art. 60 da Lei nº 8213/1991 com a seguinte redação: Sempre que possível, o ato de concessão ou de reativação de auxílio-doença, judicial ou administrativo, deverá fixar o prazo estimado para a duração do benefício.
Posteriormente, ainda com a malsinada Medida Provisória em vigor, a matéria foi disciplinada com a mesma redação pela Medida Provisória nº 767, de 06/01/2017, a qual foi convertida, sem mudança de redação, pela Lei nº 13.457, de 26 de junho de 2017.
Ocorre, todavia, que o referido dispositivo legal, ao instituir a chamada alta programada, inexistente na redação original da Lei nº 8213/1991, padece de inconstitucionalidade, por violar o princípio da vedação do retrocesso social.
Com efeito, os direitos sociais já assegurados por lei não podem ser suprimidos porque a Constituição Federal albergou o princípio da vedação do retrocesso social.
Ao estatuir em seu artigo 7º, caput, que “são direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social”, a Constituição fixou um patamar mínimo que não pode ser suprimido, mas ampliado.
Ora, se a lei garante o auxílio-doença a quem está incapacitado para o trabalho, é inconstitucional lei posterior que presuma o restabelecimento da capacidade sem realização de perícia.
Nesse sentido, artigo doutrinário de minha lavra: COSTA, Lincoln Pinheiro.
O direito previdenciário e o princípio da vedação do retrocesso social.
In: I Jornada de Direito Previdenciário, p. 220-221 Escola da Magistratura Federal da 1ª Região, 2010.
Canotilho assim explica o princípio da vedação do retrocesso social: “O princípio da democracia econômica e social aponta para a proibição de retrocesso social.
Com isso quer dizer-se que os direitos sociais e econômicos (ex.: direitos dos trabalhadores, direito à assistência, direito à educação), uma vez obtido um determinado grau de realização, passam a constituir, simultaneamente, uma garantia institucional e um direito subjetivo.
A ‘proibição de retrocesso social’ nada pode fazer contra as recessões econômicas (reversibilidade fáctica), mas o princípio em análise limita a reversibilidade dos direitos adquiridos, em clara violação do princípio da proteção da confiança e da segurança dos cidadãos no âmbito econômico, social e cultural, e do núcleo essencial da existência mínima inerente ao respeito pela dignidade da pessoa humana.
A violação do núcleo essencial efetivado justificará a sanção de inconstitucionalidade relativamente a normas manifestamente aniquiladoras da chamada ‘justiça social’.
Assim, por exemplo, será inconstitucional uma lei que extinga o direito a subsídio de desemprego” J.J.
Gomes Canotilho Pg 338 a 345: “ DIREITO CONSTITUCIONAL E TEORIA DA CONSTITUIÇÃO”, 7ª EDIÇÃO, ALMEDINA.
Isso demonstra o fumus boni juris, pois a alta programada viola direitos fundamentais.
O periculum in mora é presumido, tratando-se de verba alimentar.
Face ao exposto, defiro o pedido liminar para determinar à autoridade coatora que restabeleça o benefício NB 636.354.440-1 até que perícia médica comprove a cessação da incapacidade.
Notifique-se a autoridade coatora para prestar as informações no prazo de 10 dias e comprovar o cumprimento desta decisão.
Dê-se ciência à procuradoria federal (Lei 12016/2009, art. 7º, inciso II).
Vista ao MPF.
Em seguida, retornem-me os autos conclusos para sentença.
Intimem-se.
Ilhéus, data infra.
Juiz Federal -
30/01/2025 16:15
Recebido pelo Distribuidor
-
30/01/2025 16:15
Juntada de Certidão
-
30/01/2025 16:14
Distribuído por sorteio
Detalhes
Situação
Ativo
Ajuizamento
30/01/2025
Ultima Atualização
06/02/2025
Valor da Causa
R$ 0,00
Documentos
Decisão • Arquivo
Informações relacionadas
Processo nº 1019126-84.2024.4.01.3307
Jose Joao da Silva
Instituto Nacional do Seguro Social - In...
Advogado: Maria Luisa Pereira Neves
1ª instância - TRF1
Ajuizamento: 25/11/2024 12:09
Processo nº 1019126-84.2024.4.01.3307
Jose Joao da Silva
Procuradoria Federal Nos Estados e No Di...
Advogado: Maria Luisa Pereira Neves
2ª instância - TRF1
Ajuizamento: 31/03/2025 10:01
Processo nº 1001134-64.2025.4.01.3311
Yohanan Nascimento Ramos
Instituto Nacional do Seguro Social - In...
Advogado: Karina Dantas Lucas
1ª instância - TRF1
Ajuizamento: 11/02/2025 15:07
Processo nº 1003417-37.2023.4.01.3503
Caixa Economica Federal - Cef
Espolio de Roberto Arantes Ferreira
Advogado: Natalia Borges dos Santos
1ª instância - TRF1
Ajuizamento: 23/05/2023 16:44
Processo nº 1052292-22.2024.4.01.3400
Fundacao Habitacional do Exercito - Fhe
Leonardo Reischoffer do Nascimento
Advogado: Leonardo Henrique Costa de Queiroz
1ª instância - TRF1
Ajuizamento: 03/09/2025 02:58