TRF2 - 5000328-25.2023.4.02.5114
1ª instância - 5ª Turma Recursal - Juiz Relator 1 - Rj
Polo Ativo
Movimentações
Todas as movimentações dos processos publicadas pelos tribunais
-
16/09/2025 01:03
Decorrido prazo - Refer. ao Evento: 37
-
09/09/2025 01:07
Decorrido prazo - Refer. ao Evento: 36
-
24/08/2025 23:59
Confirmada a intimação eletrônica - Refer. ao Evento: 37
-
18/08/2025 02:02
Publicado no DJEN - no dia 18/08/2025 - Refer. ao Evento: 36
-
15/08/2025 02:01
Disponibilizado no DJEN - no dia 15/08/2025 - Refer. ao Evento: 36
-
15/08/2025 00:00
Intimação
RECURSO CÍVEL Nº 5000328-25.2023.4.02.5114/RJ RECORRENTE: ARLI FURTADO DA SILVEIRA (AUTOR)ADVOGADO(A): THIAGO RODRIGUES SOARES (OAB RJ204543) DESPACHO/DECISÃO decisão monocrática PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. ÓBITO POSTERIOR À MP 871/2019.
UNIÃO ESTÁVEL.
SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. 1.
SE O SEGURADO FALECE SEM FORMALIZAÇÃO DO VÍNCULO, É DA COMPANHEIRA O ÔNUS DE ALEGAR E COMPROVAR, PERANTE O INSS, SUA QUALIDADE DE DEPENDENTE, MANTIDA ATÉ A DATA DO ÓBITO, MEDIANTE PROVAS QUE, ALÉM DE DEMONSTRAREM A MERA PLAUSIBILIDADE DA ALEGADA UNIÃO ESTÁVEL, RESULTEM EM JUÍZO DE CERTEZA. 2.
PARA ÓBITOS ANTERIORES À PUBLICAÇÃO DA MP 871/2019, A PROVA MATERIAL NÃO É IMPRESCINDÍVEL.
A AUSÊNCIA DE PROVAS DOCUMENTAIS DA MANUTENÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL NO PERÍODO IMEDIATAMENTE ANTERIOR AO ÓBITO DO SEGURADO AUTORIZA MAIOR RIGOR NA AFERIÇÃO DA SOLIDEZ DOS DEPOIMENTOS, MAS NÃO AUTORIZA O INDEFERIMENTO DA PROVA TESTEMUNHAL.
A SÚMULA 63/TNU NÃO IMPÕE O RECONHECIMENTO DA ALEGADA UNIÃO ESTÁVEL (E SUA CONTINUIDADE ATÉ A DATA DO ÓBITO) COM BASE EM QUALQUER PROVA TESTEMUNHAL.
CADA DEPOIMENTO DEVE SER VALORADO CONFORME O GRAU DE CONHECIMENTO DEMONSTRADO PELA TESTEMUNHA A RESPEITO DOS FATOS; SOMENTE DEPOIMENTOS DETALHADOS E CONSISTENTES CONTRIBUEM PARA A FORMAÇÃO DO IMPRESCINDÍVEL JUÍZO DE CERTEZA. 3.
A MP 871, PUBLICADA EM 18/01/2019 (E POSTERIORMENTE CONVERTIDA NA LEI 13.846/2019), ALTEROU A REDAÇÃO DOS §§ 5º E 6º DO ART. 16 DA LEI 8.213/1991 PARA EXIGIR PROVA MATERIAL CONTEMPORÂNEA DA UNIÃO ESTÁVEL, SEM LIMITAÇÃO TEMPORAL.
NÃO SÃO REGRAS PROCESSUAIS APLICÁVEIS DE IMEDIATO (SE FOSSEM, INCORRERIAM EM INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL, POR VIOLAÇÃO DO ART. 62, § 1º, I, B, DA CRFB/1988); TRATA-SE DE ELEMENTO SUBSTANCIAL PARA QUE A UNIÃO ESTÁVEL POSSA PRODUZIR EFEITOS JURÍDICOS NA ESFERA PREVIDENCIÁRIA, NÃO APLICÁVEL AOS ÓBITOS ANTERIORES A 18/01/2019. 4.
A CONVERSÃO DA MP 871 NA LEI 13.846/2019, PUBLICADA E VIGENTE EM 18/06/2019, AGRAVOU A TARIFAÇÃO DA PROVA PARA EXIGIR QUE A PROVA MATERIAL DA UNIÃO ESTÁVEL SEJA DO PERÍODO DE 24 MESES IMEDIATAMENTE ANTERIORES AO ÓBITO.ESTA 5ª TURMA VEM DECIDINDO NO SENTIDO DA LEGITIMIDADE DESSAS INOVAÇÕES LEGISLATIVAS, POIS NÃO HÁ QUALQUER DISPOSIÇÃO CONSTITUCIONAL QUE IMPEÇA QUE A LEI IMPONHA MAIOR RIGOR EM RELAÇÃO ÀS PROVAS DA UNIÃO ESTÁVEL.
BEM ASSIM, ESSAS INOVAÇÕES PARECEM COMPATÍVEIS COM A MODERNIDADE E COM A FACILIDADE DE DOCUMENTAR OS FATOS.
A QUESTÃO É QUE A LEI ENTROU EM VIGOR NA DATA DA SUA PUBLICAÇÃO, SEM VACACIO.A CONSTITUIÇÃO NÃO PREVÊ QUALQUER REGRA OU PRINCÍPIO DE ANTERIORIDADE DA LEI PREVIDENCIÁRIA SOBRE OS BENEFÍCIOS (EMBORA O FAÇA EM RELAÇÃO ÀS CONTRIBUIÇÕES).
A QUESTÃO É SABER SE ESSA RUPTURA NORMATIVA ABRUPTA É ADMISSÍVEL PELOS PRINCÍPIOS MAIS GERAIS DA CONSTITUIÇÃO.
DEVE-SE DESTACAR QUE A INOVAÇÃO NORMATIVA PASSOU A IMPOR QUE O DEPENDENTE COLHESSE DOCUMENTOS AO LONGO DA VIDA, A FIM DE REALIZAR UMA FUTURA COMPROVAÇÃO DESSA DEPENDÊNCIA PERANTE A PREVIDÊNCIA.
A MODIFICAÇÃO REPENTINA CAUSA SURPRESA À CLIENTELA PREVIDENCIÁRIA E, POR CONSEGUINTE, TRATA DE MODO MAIS GRAVOSO E DESIGUAL AQUELAS PESSOAS QUE, POR DESDITA, FORAM COLHIDAS PELO SINISTRO PREVIDENCIÁRIO NOS DIAS SEGUINTES À LEI, COM REDUZIDÍSSIMA POSSIBILIDADE DE TER CONHECIMENTO REAL DE SUAS INOVAÇÕES E DE BUSCAR PRODUZIR ESSA DOCUMENTAÇÃO ANTES DO ÓBITO - O QUE FERE O PRINCÍPIO DA IGUALDADE (ART. 5º, I, DA CRFB/1988).
HÁ, IGUALMENTE, VULNERAÇÃO À NOÇÃO DE SEGURANÇA JURÍDICA, GARANTIDA PELO ESTADO DE DIREITO E PELA CLÁUSULA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL EM SENTIDO MATERIAL (ART. 5°, LIV, DA CRFB/1988).
O ESTADO NÃO DEVE CAUSAR SURPRESA AO CIDADÃO QUE COLOQUE EM RISCO A SUA SUBSISTÊNCIA.
A NECESSIDADE DE O PODER PÚBLICO MODIFICAR AS REGRAS DA PREVIDÊNCIA E DE BUSCAR MELHOR EQUILÍBRIO DAS CONTAS NÃO PODE SE DAR À CUSTA, NA PRÁTICA, DA REPENTINA SUPRESSÃO DA PROTEÇÃO PREVIDENCIÁRIA DE UM GRUPO DE PESSOAS, SEM PRAZO PARA ADAPTAÇÃO.
IMPUNHA-SE QUE A MODIFICAÇÃO LEGISLATIVA - UMA INOVAÇÃO INÉDITA NO SISTEMA - FOSSE ACOMPANHADA DE PERÍODO RAZOÁVEL DE TEMPO, A FIM DE QUE FOSSE FACTÍVEL OU PRESUMIDAMENTE FACTÍVEL A DIFUSÃO DA CORRESPONDENTE INFORMAÇÃO SOBRE A NECESSIDADE DE ARRECADAÇÃO DE DOCUMENTOS.
OBVIAMENTE, A NINGUÉM É DADO DESCONHECER A LEI (LINDB, ART. 3º).
NO ENTANTO, EM CONDIÇÕES NORMAIS, A LEI DEVE SER PRECEDIDA DE UMA VACÂNCIA, DURANTE A QUAL A POPULAÇÃO TENDE A TOMAR CONHECIMENTO DO SEU TEOR E DOS SEUS POTENCIAIS EFEITOS.
O ART. 1º DA LINDB FIXA QUE A VACÂNCIA, SALVO DISPOSIÇÃO DIVERSA, É DE 45 DIAS.
OBVIAMENTE QUE O LEGISLADOR PODE DISPOR DE MODO DIFERENTE, SE AS CIRCUNSTÂNCIAS ASSIM INDICAREM.
NO ENTANTO, O LEGISLADOR NÃO PODE FAZER TUDO E A VACÂNCIA ZERO PARA A LEI 13.846/2019 NÃO SE MOSTRA MINIMAMENTE JUSTIFICADA OU INDICADA.
PELO CONTRÁRIO, VULNERA GARANTIAS CONSTITUCIONAIS E TENDE A SUPRIMIR DIREITOS DE PESSOAS QUE, POR UMA INFELICIDADE PARTICULAR ESPECÍFICA, TIVERAM OS RISCOS PREVIDENCIÁRIOS CONCRETIZADOS NO PERÍODO SEGUINTE AO DA VIGÊNCIA DA LEI.A 5ª TURMA CONCLUI, PORTANTO, PELA INCONSTITUCIONALIDADE DA CLÁUSULA DE VIGÊNCIA IMEDIATA DA LEI 13.846/2019, DE MODO QUE DEVE SER OBSERVADA A VACATIO LEGIS DE 45 DIAS.
LOGO, A TARIFAÇÃO AGRAVADA É APLICÁVEL APENAS AOS ÓBITOS OCORRIDOS DESDE 02/08/2019.
PRECEDENTE: RECURSO 5000191-45.2020.4.02.5115/RJ, J.
EM 10/05/2021 (RELATOR JUIZ JOÃO MARCELO OLIVEIRA ROCHA). 5. O ÓBITO DO SEGURADO É POSTERIOR A 18/01/2019, DE MODO A SE APLICAR O REGRAMENTO INTRODUZIDO PELA MP 871/2019.
ESTA 5ª TR-RJ ESPECIALIZADA TEM ENTENDIDO QUE A ESCRITURA PÚBLICA DE UNIÃO ESTÁVEL, MESMO QUE ANTERIOR AOS DOIS ANOS QUE ANTECEDERAM O ÓBITO, É CONSIDERADA INÍCIO DE PROVA MATERIAL CONTEMPORÂNEA, PORQUE FAZ PRESUMIR A CONTINUIDADE DA RELAÇÃO NELA DECLARADA - A MENOS QUE HAJA NOS AUTOS ELEMENTOS PARA INFIRMAR ESSA PRESUNÇÃO.
INTIMADA A APRESENTAR INÍCIO DE PROVA MATERIAL CONTEMPORÂNEA, POR DUAS VEZES, A PARTE AUTORA NÃO APRESENTOU.
NA PETIÇÃO INICIAL, EMENDADA, A PARTE AUTORA PEDIU A PRODUÇÃO DE PROVA TESTEMUNHAL E INDICOU ROL DE TESTEMUNHAS.
PORTANTO, HÁ INÍCIO DE PROVA MATERIAL PRODUZIDA NOS DOIS ANOS ANTERIORES AO ÓBITO E, APESAR DE SERVIR COMO INÍCIO DE PROVA MATERIAL DA UNIÃO ESTÁVEL, TAL DOCUMENTO NÃO CONFIGURA PROVA PLENA, DE MODO QUE É NECESSÁRIA A REALIZAÇÃO DE PROVA TESTEMUNHAL. 6. RECURSO INTERPOSTO PELA PARTE AUTORA PROVIDO EM PARTE PARA ANULAR A SENTENÇA E DETERMINAR A PRODUÇÃO DE PROVA TESTEMUNHAL. 1.
UNIÃO ESTÁVEL, O PROBLEMA DA SUFICIÊNCIA DA PROVA TESTEMUNHAL (SÚMULA 63/TNU) E A EXIGÊNCIA DE PROVA MATERIAL CONTEMPORÂNEA, DESDE O FINAL DE 01/2019, COMO ELEMENTO ESSENCIAL PARA QUE A UNIÃO PRODUZA EFEITOS PREVIDENCIÁRIOS 1.1.
O segurado tem, em vida, a oportunidade de (i) formalizar escritura pública ou mesmo instrumento particular declaratório de união estável ou (ii) informar o CPF da companheira na declaração de imposto de renda.
Se o segurado falece sem formalizar o vínculo, é da companheira o ônus de alegar e comprovar, perante o INSS, sua qualidade de dependente, mantida até a data do óbito. A união estável é, por definição, pública e notória, e a vida em comum deixa vestígios da relação de coabitação, afeto e dependência: mensagens e fotografias em redes sociais, contrato de aluguel, conta conjunta, declaração de visitação prestada por hospital, contas que comprovam a coabitação etc.
Imprescindível é que o conjunto probatório produzido vá além da demonstração da plausibilidade da alegada união estável e resulte em juízo de certeza. 1.2.
A regra do art. 55, § 3º, da Lei 8.213/1991 limita-se a exigir início de prova material para a comprovação de tempo de serviço.
Para a comprovação da união estável, até o advento da MP 871/2019 (convertida na Lei 13.846/2019), a Lei 8.213/1991 não exigia prova material, consoante orientação jurisprudencial consagrada pela Súmula 63/TNU: "A comprovação de união estável para efeito de concessão de pensão por morte prescinde de início de prova material." No STJ, essa compreensão sempre foi seguida, seja na época em que a matéria era da competência das 5ª e 6ª Turmas (REsp 603.533, j. em 28/09/2005, 5ª Turma; REsp 326.717, j. em 29/10/2002, REsp 543.423, j. em 23/08/2005, e 182.420, j. em 29/04/1999, 6ª Turma), seja depois que a matéria passou a ser da competência das 1ª e 2ª Turmas (AREsp 891.154, j. em 14/02/2017, 1ª Turma; AgInt no AREsp 1.339.625, j. em 05/09/2019, mas com base em caso anterior a 2019, 2ª Turma).
A ausência de provas documentais da manutenção da união estável no período imediatamente anterior ao óbito do segurado não autorizava o indeferimento do requerimento de prova oral; quando muito, poderia influir na formação de convicção dos magistrados, impondo maior rigor na aferição da solidez dos depoimentos.
Por outro lado, a jurisprudência do STJ e a Súmula 63/TNU não impõem o reconhecimento da alegada união estável (e sua continuidade até a data do óbito) com base em qualquer prova testemunhal.
Cada depoimento deve ser valorado conforme o grau de conhecimento demonstrado pela testemunha a respeito dos fatos; somente depoimentos detalhados e consistentes contribuem para a formação do imprescindível juízo de certeza. 1.3.
A MP 871, publicada em 18/01/2019 (e posteriormente convertida na Lei 13.846/2019), atribuiu a seguinte redação aos §§ 5º e 6º do art. 16 da Lei 8.213/1991, para exigir prova material contemporânea da união estável, sem limitação temporal: § 5º As provas de união estável e de dependência econômica exigem início de prova material contemporânea dos fatos, produzido em período não superior a 24 (vinte e quatro) meses anterior à data do óbito ou do recolhimento à prisão do segurado, não admitida a prova exclusivamente testemunhal, exceto na ocorrência de motivo de força maior ou caso fortuito, conforme disposto no regulamento." § 6º Na hipótese da alínea c do inciso V do § 2º do art. 77 desta Lei, a par da exigência do § 5º deste artigo, deverá ser apresentado, ainda, início de prova material que comprove união estável por pelo menos 2 (dois) anos antes do óbito do segurado.
Há magistrados que consideram essas novas normas como regras de direito processual, imediatamente aplicáveis aos processos ajuizados a partir de 18/01/2019.
Esse entendimento, com a devida vênia, é rejeitado por esta 5ª Turma Recursal do Rio de Janeiro.
Caso se tratasse de regra de direito processual, haveria inconstitucionalidade formal, por violação do art. 62, § 1º, I, b, da Constituição da República, porque introduzida no ordenamento mediante medida provisória.
Consoante entendimento do STF, o vício formal da medida provisória contamina a lei decorrente de sua conversão (ADI 3.090 MC, ADI 3.330).
A ADI 6.096 discute a constitucionalidade dos §§ 5º e 6º do art. 16 da Lei 8.213/1991.
O parecer oferecido pela PGR é no sentido de que esses dispositivos (bem como a nova redação atribuída ao § 3º do art. 55) "estão inseridos no contexto dos procedimentos administrativos relacionados à concessão de benefícios previdenciários e possuem natureza de direito administrativo e previdenciário.
Portanto, não causam interferência no direito das provas regulado pelo Código Civil e pelo Código de Processo Civil, de maneira que não se verifica inconstitucionalidade formal das normas." Na mesma linha, o juiz Luiz Clemente Pereira Filho considera que "a questão da aptidão probatória - o que prova e o que não prova determinado fato - é de direito material" e o juiz João Marcelo Oliveira Rocha ponderou que não se trata propriamente de matéria processual civil, "já que se cuida de critério de apuração do direito em sede administrativa." A existência de prova material contemporânea passa a integrar a substância do ato (semelhantemente ao que dispõem os arts. 108 e 109 do Código Civil/2002); não é questão de saber se o fato pode ser provado por outros meios, e sim de que, sem a prova exigida por lei, não produz efeitos jurídicos na esfera previdenciária.
Em consequência disto, a prova material não é imprescindível nos requerimentos de pensão por morte fundados em alegação de união estável quando os óbitos forem anteriores a 18/01/2019. 1.4.
Para os óbitos posteriores a 18/01/2019, incide a regra do § 5º, tornando exigível a apresentação de alguma prova material, sem limitação temporal.
A conversão da MP 871 na Lei 13.846/2019, publicada e vigente em 18/06/2019, agravou a tarifação da prova para exigir que a prova material da união estável seja do período de 24 meses imediatamente anteriores ao óbito.
Sobre essa questão, o juiz João Marcelo Oliveira Rocha votou no recurso 5000191-45.2020.4.02.5115/RJ, julgado em 10/05/2021, no sentido de que: (i) Esta 5ª Turma vem decidindo no sentido da legitimidade dessas inovações legislativas, pois não há qualquer disposição constitucional que impeça que a lei imponha maior rigor em relação às provas da união estável.
Bem assim, essas inovações parecem compatíveis com a modernidade e com a facilidade de documentar os fatos. a questão é que a lei entrou em vigor na data da sua publicação, sem vacacio. (ii) A Constituição não prevê qualquer regra ou princípio de anterioridade da lei previdenciária sobre os benefícios (embora o faça em relação às contribuições).
A questão é saber se essa ruptura normativa abrupta é admissível pelos princípios mais gerais da Constituição.
Deve-se destacar que a inovação normativa passou a impor que o dependente colhesse documentos ao longo da vida, a fim de realizar uma futura comprovação dessa dependência perante a Previdência.
A modificação repentina causa surpresa à clientela previdenciária e, por conseguinte, trata de modo mais gravoso e desigual aquelas pessoas que, por desdita, foram colhidas pelo sinistro previdenciário nos dias seguintes à Lei, com reduzidíssima possibilidade de ter conhecimento real de suas inovações e de buscar produzir essa documentação antes do óbito – o que fere o princípio da igualdade (art. 5º, I, da CRFB/1988).
Há, igualmente, vulneração à noção de segurança jurídica, garantida pelo estado de direito e pela cláusula do devido processo legal em sentido material (art. 5°, LIV, da CRFB/1988).
O Estado não deve causar surpresa ao cidadão que coloque em risco a sua subsistência.
A necessidade de o Poder Público modificar as regras da Previdência e de buscar melhor equilíbrio das contas não pode se dar à custa, na prática, da repentina supressão da proteção previdenciária de um grupo de pessoas, sem prazo para adaptação.
Impunha-se que a modificação legislativa - uma inovação inédita no sistema – fosse acompanhada de período razoável de tempo, a fim de que fosse factível ou presumidamente factível a difusão da correspondente informação sobre a necessidade de arrecadação de documentos.
Obviamente, a ninguém é dado desconhecer a Lei (LINDB, art. 3º).
No entanto, em condições normais, a Lei deve ser precedida de uma vacância, durante a qual a população tende a tomar conhecimento do seu teor e dos seus potenciais efeitos.
O art. 1º da LINDB fixa que a vacância, salvo disposição diversa, é de 45 dias.
Obviamente que o legislador pode dispor de modo diferente, se as circunstâncias assim indicarem.
No entanto, o legislador não pode fazer tudo e a vacância zero para a Lei 13.846/2019 não se mostra minimamente justificada ou indicada.
Pelo contrário, vulnera garantias constitucionais e tende a suprimir direitos de pessoas que, por uma infelicidade particular específica, tiveram os riscos previdenciários concretizados no período seguinte ao da vigência da Lei.
A 5ª Turma conclui, portanto, pela inconstitucionalidade da cláusula de vigência imediata da Lei 13.846/2019, de modo que deve ser observada a vacatio legis de 45 dias.
Logo, a tarifação agravada é aplicável apenas aos óbitos ocorridos desde 02/08/2019.
Precedente: recurso 5000191-45.2020.4.02.5115/RJ, j. em 10/05/2021 (Relator Juiz JOÃO MARCELO OLIVEIRA ROCHA). 1.5.
A título de consideração (não submetida ao colegiado no julgamento de algum caso concreto), mesmo para os óbitos ocorridos a partir de 02/08/2019, o Juízo pode, fundamentadamente, abrir espaço para as exceções previstas a título de "força maior" para a não apresentação de prova material. 2.1.
A sentença julgou improcedente o pedido por ausência de prova material: DO CASO EM CONCRETO.
Como o reconhece a Administração (§1º do art. 365 da IN PRES-INSS/2022), a legislação aplicável é aquela vigente na época do evento gerador do direito, independentemente da data do requerimento.
Na espécie, o fato gerador é o óbito da segurada, que ocorreu em 03/12/2020 (Evento 1, CERTOBT9), portanto, na vigência da Emenda Constitucional nº 103, de 2019.
Dessa forma, as normas da legislação anterior a 13/11/2019, data da publicação da referida Emenda, serão consideradas a partir do filtro da EC 103/2019, conforme as considerações teóricas feitas acima nesta fundamentação.
Examino a qualidade de dependente do autor.
Para caracterização da união estável é necessária a convivência pública, contínua, duradoura e com intenção de formar unidade familiar. Alega o autor que teria vivido como companheiro da segurada, Sra.
Dalva, de 1976 até a morte desta.
Para comprovação do alegado, vieram aos autos os seguintes elementos materiais (Evento 1): Comprovantes de endereço do autor na Rua Marta Vidal 310 de 2019, 2020 e 2023;Certidão de óbito da instiuidora com mesmo endereço e as informações de "separada consensualmente" no estado civil e ex-cônjuge o autor (grifei);Escritura de Pacto em União Estável datada de 22/12/2008;Certidões de nascimento dos filhos em comum (já maiores de 40 anos);Boleto bancário em nome da falecida de 12/2020.
Verifico que, apesar de o óbito ter ocorrido após 18/01/2019 (quando entrou em vigência a MP nº 871/2019, convertida na Lei nº 13.846/2019 em 18/06/2019), a parte não apresentou provas materiais de união estável e de dependência econômica contemporâneas aos fatos (de 03/12/2018 a 03/12/2020), exigidas nos termos do § 5º do art. 16 da Lei nº 8.213/91, em que pese tenha sido expressamente intimada para tanto (Eventos 4 e 17).
Inclusive, por ocasião da intimação do Evento 17, o autor sequer se manifestou. Tendo sido concedida à autora ampla oportunidade de produção de prova, concluo que ele não se desincumbiu de ônus de apresentar início de prova material hábil, nos termos do art. 373, I do CPC.
Assim, não sendo admitida a prova exclusivamente testemunhal, exceto na ocorrência de motivo de força maior e ou caso fortuito, deixo de realizar audiência de instrução e julgamento e reconheço encerrada a instrução.
O benefício não é devido.
DISPOSITIVO Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTE O PEDIDO, na forma do art. 487, I do CPC. 2.2.
Em recurso, a parte autora alegou, em síntese, que: (i) não foi oportunizada a produção de prova testemunhal; (ii) foi juntado contrato de união estável e comprovantes de residência em comum. 2.3.
O óbito da segurada é posterior a 18/01/2019, aplicando-se a ele o regramento introduzido pela MP 871/2019. 3.
Em respeito ao princípio do duplo grau de jurisdição (art. 141 do CPC/2015) e ao entendimento reiterado desta 5ª TR-RJ Especializada no sentido da inadmissibilidade das provas produzidas após o encerramento da fase instrutória, deixo de apreciar os documentos de evento 26, CONTRSOCIAL4 e evento 26, OUT5, bem como os fatos relacionados, porque não foram apreciados pelo Juízo sentenciante. 4.1. Para comprovar a alegada união estável, a parte autora apresentou, no requerimento administrativo de 22/12/2020, sob NB 186.507.292-0 (evento 14, PROCADM4): - Certidão de óbito da segurada DALVA REGINA MACHADO, separada consensualmente, residente na Avenida Mata Vidal, 310, Parque Sayonara, Magé/RJ, sendo o ex-cônjuge a parte autora e o declarante o companheiro da filha em comum RENATA (fl. 3); - Escritura de pacto em união estável de 22/12/2008, outorgada pela parte autora e pela falecida, na qual declararam conviviam em união estável há dois anos (fl. 5); - Documentos pessoais da falecida (fls. 4, 8, 17).
No recurso ordinário contra o indeferimento administrativo (evento 14, PROCADM3), além dos apresentados no requerimento: - Fotografias sem data em que foram registradas (fls. 4/8); - Certidão de nascimento e identidade dos filhos em comum, MARCELO MACHADO DA SILVEIRA, em 19/07/1982, e RENATA MACHADO DA SILVEIRA, em 15/04/1976 (fls. 9/18); - Escritura pública de inventário extrajudicial dos bens deixados pela falecida, lavrada em 26/02/2021, na qual a parte autora é qualificada como meeira e há menção à separação judicial em 01/06/2006 e retorno da relação como união estável em 22/12/2006 (fls. 19/26); - Comprovante de residência em nome da segurada na Avenida Marta Vidal, 310, Parque Sayonara (Vila Inhomirim), Magé/RJ, de 11/12/2020 (fls. 27/28).
Apenas nos presentes autos, a parte autora juntou comprovante de residência em seu nome na Rua Marta Vidal, 310, Fragoso, Magé/RJ, emitidos em 12/2019 (evento 1, OUT6), 04/2020 (evento 1, OUT7) e 01/2023 (evento 1, OUT8).
Apesar de não ter sido apresentado comprovante de endereço em nome da falecida emitido nos 24 meses anteriores ao óbito (só um emitido após o óbito), na certidão de óbito, na escritura pública de união estável e na escritura de inventário extrajudicial o endereço atribuído à parte autora e à falecida é na Rua/Avenida Marta Vidal, 310, Fragoso/Parque Sayonara. 4.2.
Esta 5ª TR-RJ Especializada tem entendido que a escritura pública de união estável, mesmo que anterior aos dois anos que antecederam o óbito, é considerada início de prova material contemporânea, porque faz presumir a continuidade da relação nela declarada - a menos que haja nos autos elementos para infirmar essa presunção. 4.3.
Intimada a apresentar início de prova material contemporânea, por duas vezes (evento 4, DESPADEC1 e evento 17, DESPADEC1), a parte autora não apresentou.
Na petição inicial, emendada no evento 9, EMENDAINIC1, a parte autora pediu a produção de prova testemunhal e indicou rol de testemunhas (fl. 10). 5.
Portanto, há início de prova material produzida nos dois anos anteriores ao óbito e, apesar de servir como início de prova material da união estável, tal documento não configura prova plena, de modo que é necessária a realização de prova testemunhal. 6.
Decido DAR PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO INTERPOSTO PELA PARTE AUTORA para anular a sentença e determinar a produção de prova testemunhal.
Sem custas.
Sem condenação em honorários, porque provido o recurso, ainda que em parte (art. 55 da Lei 9.099/1995).
Intimem-se.
Após o trânsito em julgado, dê-se baixa e remetam-se os autos ao JEF de origem. -
14/08/2025 11:44
Expedida/certificada a intimação eletrônica - Despacho/Decisão
-
14/08/2025 11:44
Expedida/certificada a intimação eletrônica - Despacho/Decisão
-
14/08/2025 07:40
Conhecido o recurso e provido em parte
-
14/08/2025 07:29
Conclusos para decisão/despacho
-
29/10/2024 15:43
Remetidos os Autos em grau de recurso para TR - Órgão Julgador: RJRIOTR05G03
-
24/09/2024 05:01
Decorrido prazo - Refer. ao Evento: 30
-
09/09/2024 23:59
Confirmada a intimação eletrônica - Refer. ao Evento: 30
-
30/08/2024 14:56
Intimação Eletrônica - Expedida/Certificada
-
30/08/2024 14:56
Despacho
-
29/08/2024 20:24
Conclusos para decisão/despacho
-
19/07/2024 01:04
Decorrido prazo - Refer. ao Evento: 24
-
18/07/2024 10:12
Juntada de Petição - Refer. ao Evento: 23
-
04/07/2024 23:59
Confirmada a intimação eletrônica - Refer. aos Eventos: 23 e 24
-
24/06/2024 18:58
Expedida/certificada a intimação eletrônica - Sentença
-
24/06/2024 18:58
Expedida/certificada a intimação eletrônica - Sentença
-
24/06/2024 15:48
Julgado improcedente o pedido
-
22/01/2024 17:21
Conclusos para julgamento
-
05/12/2023 03:03
Decorrido prazo - Refer. ao Evento: 18
-
09/11/2023 23:59
Confirmada a intimação eletrônica - Refer. ao Evento: 18
-
30/10/2023 13:59
Intimação Eletrônica - Expedida/Certificada
-
30/10/2023 13:59
Determinada a intimação
-
20/09/2023 16:29
Juntada de Certidão
-
11/08/2023 03:02
Decorrido prazo - Refer. ao Evento: 11
-
30/06/2023 14:06
Juntada de Petição - Refer. ao Evento: 10
-
30/06/2023 14:02
Juntada de Petição
-
29/06/2023 23:59
Confirmada a citação eletrônica - Refer. aos Eventos: 10 e 11
-
19/06/2023 16:55
Expedida/certificada a intimação eletrônica - Requisição - Instrução - Fornecer processo admin. prev. PAP
-
19/06/2023 16:54
Expedida/certificada a citação eletrônica
-
31/05/2023 19:34
Juntada de Petição
-
31/05/2023 15:35
Conclusos para decisão/despacho
-
14/04/2023 01:05
Decorrido prazo - Refer. ao Evento: 5
-
18/03/2023 23:59
Confirmada a intimação eletrônica - Refer. ao Evento: 5
-
08/03/2023 21:29
Expedida/certificada a intimação eletrônica - Despacho/Decisão
-
08/03/2023 21:29
Determinada a intimação
-
08/03/2023 14:40
Alterado o assunto processual - De: Concessão - Para: Pensão por Morte (Art. 74/9)
-
01/03/2023 12:11
Conclusos para decisão/despacho
-
14/02/2023 22:20
Distribuído por sorteio
Detalhes
Situação
Ativo
Ajuizamento
29/10/2024
Ultima Atualização
16/09/2025
Valor da Causa
R$ 0,00
Documentos
DESPACHO/DECISÃO • Arquivo
DESPACHO/DECISÃO • Arquivo
OUTROS • Arquivo
SENTENÇA • Arquivo
DESPACHO/DECISÃO • Arquivo
DESPACHO/DECISÃO • Arquivo
Informações relacionadas
Processo nº 5079431-52.2025.4.02.5101
Media Correspondente LTDA
Caixa Economica Federal - Cef
Advogado: Hugo Viana Martins
1ª instância - TRF2
Ajuizamento: 30/11/-0001 00:00
Processo nº 5119918-06.2021.4.02.5101
Maria Jose Neris Santana
Instituto Nacional do Seguro Social - In...
Advogado: Claudia Regina Cardoso Bellotti Pereira
1ª instância - TRF2
Ajuizamento: 30/11/-0001 00:00
Processo nº 5077250-78.2025.4.02.5101
Ricardo Luiz D Acri Areias
Uniao - Fazenda Nacional
Advogado: Mirna Castello Gomes Franca
1ª instância - TRF2
Ajuizamento: 30/11/-0001 00:00
Processo nº 5011937-07.2024.4.02.5102
Antonio Carlos Barreto da Silva
Instituto Nacional do Seguro Social - In...
Advogado: Andre Amaral de Aguiar
1ª instância - TRF2
Ajuizamento: 09/09/2025 12:27
Processo nº 5086573-44.2024.4.02.5101
Rosimeri Silva de Souza
Instituto Nacional do Seguro Social - In...
Advogado: Henrique Bicalho Civinelli de Almeida
1ª instância - TRF2
Ajuizamento: 30/11/-0001 00:00